segunda-feira, 29 de março de 2010

BOOMERANG I

Acabei de ler a página que Miguel  Sousa  Tavares escreve no semanário " Expresso" e como quase sempre subscrevo a crítica que desta vez é sobretudo à indiferença e à ignorância ( já aqui por mim referida como um dos Pecados Mortais da Condição Lusitana)  da maioria dos portugueses, tipo, não sei nem quero saber e tenho ódio a quem sabe.
Só que desta vez, ele refere-se a este modo de ser - que é o da generalidade dos países europeus mediterrânicos, a propósito da ineficiencia do Estado, da incompetencia da maioria dos políticos, da obtusa exigencia dos "direitos adquiridos" dos beneficiários do Estado Providência (para  as duas últimas gerações, ou seja as pós-guerra ) ou da ignoância sobre as contas públicas. E nem querem ouvir as conquistas ao conhecimento feitos por Malthus ( no crescimento da riqueza e alimentação dos povos ), por Freud ( sobre o comportamento humano ), por Marx ( sobre a importância  dos movimentos económicos para determinar a História provável das nações ), ou de Darwin (sobre as constantes da teleologia ou finalidade do comportamento de qualquer espécie animal). O que é trágico, porque o somatório destes conhecimentos aplicado a Portugal dá como resultado um desastre que se não fosse denegado pelos portugueses podia ser combatido com vantagens inúmeras.
Neste artigo, o Miguel conta até o caso de uma manifestante grega contra o PEC grego que dizia que jamais aceitaria trabalhar além dos cinquenta anos porque tinha uma das duzentas e tal profissões que a demagogia grega resolveu classificar de "desgaste rápido". Era cabeleireira.

A questão é que à custa de slogans tipo " menos Estado, melhor Estado ", foram sendo criados  institutos, fundações, reguladores, e subsídios de todo o tipo para todo o tipo de gente da classe baixa, média-baixa, média ou média-alta, e da classe rica.

E eu, a ler o Miguel, pus-me a olhar para o lado e vi como nos domesticamos ao dono: ao Estado.
 Pus-me a fazer um balanço sobre a gente que me é mais próxima e "vi" isto: eu sou funcionário público reformado por doença e tenho pensão do Estado, a  minha mulher é aposentada do Estado, a minha ex-mulher é funcionária pública ( médica em exclusividade ), os meus sogros actuais com noventa anos são pensionistas , e o mesmo se passa com os meus ex-sogros que estão a caminho dos cem ( em ambos os casos as mulheres eram domésticas e nunca descontaram ), o meu melhor amigo é um rico industrial que ainda o ano passado recebeu ( dados ) um milhão de euros para auxílio à exportação, outro amigo íntimo é professor catedrático bem como a mulher em exclusividade para a Universidade do Porto, dois dos meus mais próximos jovens amigos de Vila do Conde são médicos e dependem directamente um e indirectamente outro do Estado, uma das mais próximas jovens amigas faz cursos tipo "Novas Oportunidades". Resta-me o meu advogado daqui de Vila do Conde e outro do Porto que são os únicos que não dependem do Estado Mafarrico, bem como um outro amigo que é jurista mas se dedica aos negócios. Até os restaurantes e cafés que frequento já se habilitaram aos célebres "cursos de formação" pagos pelo Estado.
Mas conclui ainda mais: nenhum destes amigos chegados, com excepção do jurista e do industrial produzem bens materiais; todos os restantes,incluindo eu, produzem ou produziram serviços. E os "serviços" não tiram a fome, não agasalham, não dão casa, não nos movem....

É pois isto que está em causa: há muito tempo que somos avisados que devíamos poupar e...trabalhar, fazer aquilo que alemães, holandeses,belgas e austríacos, fazem com gosto...e por isso são sempre super-avitários e não passam pela humilhação de  curvarem a espinhela à caridade alheia. Mas por cá, reina o chico-espertismo que me faz lembrar uma história:

Um antiquário do Porto, costumava calcorrear locais e lugarejos do Douro à procura de peças raras que pudessem existir nas casas agrícolas velhas ou nas casas solarengas mais ou menos abandonadas ( esta anedota foi-me contada por uma jovem velha senhora de Cinfães que volta e meia tinha que aturar estes senhores). Um dia, um destes antiquários deu de caras com a casa dum vetusto lavrador onde repousava, à porta, um vasilhame valioso da Idade Média que servia para dar de comer ao gato. Espedito, o antiquário propõe ao lavrador comprar-lhe o gato para oferecer à filha que gostava muito de animais. Acordado o preço, obteve, de imediato, o acordo do velho agricultor, mas  acrescentou:
-Já agora levo-lhe também essa tigela porque o coitado do gato está habituado a comer por ela.
- Ah! Não, recusa o lavrador. Esta tigela, como lhe chama, não a leva. Ela já me vendeu doze gatos de há um mês para cá.

E a propósito Delenda Madeira e China est!

  

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