terça-feira, 8 de setembro de 2009

A INEVITABILIDADE DA PROXIMIDADE DA III GUERRA MUNDIAL

A INEVITABILIDADE DA PROXIMIDADE DA III GUERRA MUNDIAL
A recessão actual vai acelerar a nova ordem mundial. Sinal disso é a última encíclica do Papa Bento XVI “Caritas in Veritate” - apelando a “um governo mundial” - , o que podemos ver como uma última tentativa sensata do consenso ainda possível entre potências com interesses antagónicos e antes que a guerra dirima a questão.
Nos últimos quatro trimestres a produção industrial da China é a pior dos últimos trinta anos ( desde que começou a sua “ocidentalização“), embora desde há um ano seja visível o efeito keynesiano de milhões de yuans despejados sobre a economia. Praticamente a totalidade de trabalhadores “escravos”, imigrados na China, foram repatriados para os países vizinhos ( dezenas de milhões para a indonésia, Laos, Cambodja, Coreia do Norte, Birmânia, Vietname sobretudo, e mais de vinte milhões de nacionais chineses tiveram de regressar das grandes cidades para os campos e agricultura de subsistência.
A deslocação relativa é enorme. Os BRIC (acrónimo inteligente da Goldman Sachs para nomear as quatro maiores economias emergentes : Brasil, Rússia, Índia e China ), não estão a puxar - através do seu consumo interno - tanto quanto a generalidade dos políticos imaginava para arrancar o mundo à recessão, muito embora a China e Índia ajudem. que não a Rússia (há oito trimestres em recessão!) e o Brasil por estarem mergulhados em dívidas ao exterior.
Isto significa que a China vai ultrapassar o Japão já este ano, tornando-se a segunda economia mundial, enquanto o Brasil ultrapassa o Canadá imerso em despesas sociais incomportáveis. Pelos anos 2020 a China vai ultrapassar os USA, e a Índia o Japão.
O caso é que o mundo ocidental ( como o Canadá ) assumiu dívidas tais para impulsionar o crescimento, que ficará a coxear, tal como os respectivos contribuintes, durante os longos anos da recuperação.
Assim que houver retoma, todos teremos de pagar mais impostos e, se as facilidades
monetárias fizerem aumentar a inflação, também teremos taxas de juros mais altas. Mesmo que a inflação não aumente , as taxas de juro terão de subir para estimular a poupança porque os governos serão obrigados a pagar as dívidas públicas e do estado aos asiáticos e aos árabes petro-produtores que, por deterem excessos de poupanças se deram ao luxo de tomarem de assalto boa parte dos bancos americanos e não só.
De tal modo que os países que se estão a sair airosamente são os países que tinham baixos níveis de endividamento ou mesmo largos superávites - pessoais, empresariais (sobretudo bancários ) e públicos.
Noções de Geopolítica que nós, portugueses de café, desconhecemos.
(i)-É ao sueco Rudolf Kjellén (1864-1922 ) que se deve o emprego iniciático deste termo, mais correctamente em 1916 no seu livro “Staten som Lifsform “ (“ O Estado como Forma De Vida” ), que tinha ido beber noções básicas ao alemão Friedrich Ratzel (1844-1904). E é na Alemanha que o livro de Kjellén é traduzido por duas vezes antes de 1924 levando ao impulso da geopolítica como ciência graças a Karl Haushofer. Este discípulo de Schopenhauer e militar de carreira, defende tese de doutoramento em 1914 sobre o Império Japonês, sugerindo ao Kaiser aliar-se com o Japão para quebrar a hegemonia anglo-saxónica ( esta proposta é considerada absurda ). Em 1919 deixa o exército para se consagrar por inteiro à nova ciência ( a geopolítica ). Como a maioria dos oficiais alemães está convencido que a derrota na Grande Guerra está ligada ao avanço do bolchevismo e a efémera Comuna de Novembro d 1918 paracia dar-lhe razão ; que os dirigentes máximos bolcheviques fossem judeus, como Trotsky, Marx, Stalin e Rosa Luxemburg, só serviam para justificar a tese da “cabala”. Um dia confia ao seu ajudante de campo Rudolf Hess - que viria a ser o nº dois do nazismo - que a geopolítica obrigaria os alemães a deixar “ o espírito de bairro e a pensar em termos de continente”. Em 1993, após o “putsch” de Munique, Hesse refugia-se em casa de Haushofer antes de passar à Áustria. Quando regressa, Hesse é condenado a ligeira pena de prisão em Lansberg onde conhece Hitler que lhe dita o texto de “Mein Kampf”. “No livro “ O que é a geopolítica” de Alain de Benoist encontram os meus dois leitores e meio, informação suficiente.
Haushofer crê que o sec. XX será dos impérios territoriais, como o XIX fora dos impérios marítimos, e acredita ( e está correcto ) que será de declíneo para o império britânico. Pensa que só a união da Europa continental permitirá a salvaguarda dos valores europeus..Em 1930 escreverá:” Ou a democracia e o pacifismo criarão uma espécie de Estados Unidos da Europa, o mais tardar em 1950, ou a catástrofe do espaço euro-asiático será inevitável - sem dúvida pelo desmembramento regressivo das potências coloniais. Actualmente não é o domínio dos mares, mas a posse das grandes superfícies de terra que constitui o objectivo da alta política (citado por Konrad Heiden, Der Fuhrer. Zurich, 1944 ). Com esta publicação inicia-se a geoestratégia.
Os dados da geopolítica têm de facto a ver com a determinação do inimigo. Sendo os dois factores implicados em toda a estratégia, as necessidades políticas ( finais ou ocasionais ) e o espaço-tempo disponível para conduzir à situação táctica desejável, pode definir-se estratégia como “ a arte de harmonizar os espaços-tempos específicos a cada categoria de meios usados para conservar uma liberdade máxima de acção e conduzir a uma situação táctica vantajosa, em potência ou em acção, que permita com os menores custos satisfazer as necessidades políticas “ ( Eric Muraise, in Études Polemologiques ). Assim, geoestratégia passa a ser o instrumento de realização dos fins definidos pela geopolítica.
Em 12 de Fevereiro de 1934, Hess cria o “ Conselho dos Estrangeiros de Origem Alemã “ de que confia a presidência a Karl Haushofer que é membro também do Presidium da Academia Alemã até 1937. A partir de 1938 participa na dircção da Verein fur Das Deutschtum im Ausland que se dedica à defesa da germanidade fora das fronteiras. Do seu livro Weltpolitik Von Heute ( Política Mundial de Hoje ) dedicado a Rodolf Hesse editam-se mais de 100 mil exemplares. Aí prevê, entre outros, a emergência do islamismo e do arabismo.
Por esta altura a geopolítica considerava que o Estado não podia ser analisado independentemente do seu meio natural. Como tal, nasce, cresce e morre. Durante a sua existência ele pode aliar-se a um “conjunto”, ter filhos ( as colónias ), ser posto sob tutela (protectorado, com todas as “nuances” ), sofrer doenças de crescimento. Podem ser-lhe amputados alguns orgãos. A ideia não é nova e remonta à Antiguidade Greco-Latina. Se um mesmo povo se dispersa por muitos Estados, resulta daí um florescer das artes e talvez das ciências, mas também uma diminuição da potência política e das hipóteses de continuidade. É o exemplo dos Estados Gregos, por oposição a Roma.
E esta ideia dinâmica do nascimento, crescimento e morte dos Estados alimenta-se sobretudo da ideia de mudanças na “alimentação” dos Estados presente na obra Introdução à Geopolítica ( Einfuhrung in die Geopolitik. B. G. Teubner, Leipzig- Berlin, 1933 ), de Richard Hennig e Leo Kurholz que enumeram os factores naturais susceptíveis de influência e mudança: o clima (1), a localização, a fauna e a flora, as florestas e a orografia(2), a rede hidrográfica e a extenção das costas(3), a permeabilidade das fronteiras e das vias de acesso, a forma e os contornos da terra, a distribuição dos solos(4), a capacidade das relações externas ( sobretudo por, ou através do mar), as facilidades de trânsito aos vizinhos(5), a cadência marinha, as paisagens, etc. Em seguida confrontam estes factores constantes ( ou quase ) com os factores variáveis, tais como a evolução demográfica(6), a riqueza potencial dos recursos e a capacidade de os exportar(7), as afinidades espirituais e culturais, etc..Esta confrontação, dizem eles, define a adaptação dos Estados e do grupo de Estados ( aparentados pelo seu comportamento ) em relação ao seu meio. Desta adaptação “fisiológica”, decorrem as situações políticas presentes ou potenciais, às quais os Estados terão de fazer face.
A noção de fronteira, em especial, tem hoje de ser revista. A não ser em casos extremos as “fronteiras naturais” são um mito. Poucos países têm fronteiras tão naturais como a Itália e, no entanto, este país não conseguiu a sua unidade há mais de cem anos e antes da Alemanha. Os grandes rios, como o Reno e o Ródano unem tanto ou mais que separam. A “cortina de ferro” (Muro de Berlim ) enquanto existiu, como o muro da Cisjôrdania, o muro entre o México e os USA, tal como o muro das favelas do Rio de Janeiro, (tal como o muro da China para a defesa contra as invasões Mongóis, ou o Muro de Adriano cortando ao meio a Inglaterra romana ) nascidos de afirmações puramente políticas e voluntaristas constituem hoje fronteiras muito mais reais que os Alpes ou os Pirinéus. Hoje a simples descoberta de uma jazida, de uma tecnologia, pode imediatamente pôr em causa uma fronteira.
Mas um conceito-chave continua a ser a “homogeneidade”. A planície siberiana é homogénea do Amor aos Urais: não há um ponto de suspensão física entre estas extremidades. E isto significa que a Sibéria nunca poderá ser partilhada de modo durável : será ou inteiramente russa ou inteiramente chinesa.
Os regimes políticos mudam mas os motivos das invasões e os seus caminhos não. A via natural da expansão alemã para sudeste passa pelo Danúbio, como na rota das cruzadas. No séc. XVII os Turcos seguiram-na quando tentaram ocupar Viena. É protegida pelos Cárpatos que sempre travaram as incursões de leste, designadamente dos Czares.
A “política dos direitos” é uma constante para muitas potencias, como os Dardanelos para o Kremlin. Desde o séc. XIX que a Rússia concentra esforços na região entre Cárpatos e Mar Negro. Em 1928 invade a Valáquia , em 1877 a Moldávia em direcção à Turquia - Bósforo e Dardanelos. Quando a Transilvânea passou para as mãos dos Habsburgos, amigos dos russos, as investidas continuaram porque os Dardanelos ( porta de entrada da Crimeia russa para o Mediterrâneo, lá continuava. Com os comunistas no poder, esses intentos prosseguiram com massacres em regiões de passagem para os Dardanelos como a actual Geórgia , a Tetchénia, ou a Arménia, o que levou a Turquia a pedir a sua entrada na NATO.
Os exemplos são infindos, desde as guerras entre Suecos e Pedro o Grande, da Rússia, a tomarem os mesmos caminhos que Napoleão na campanha da Rússia. Mas, bem mais perto de nós, Gibraltar, tão pouco falada e sempre tão apetecida pelos Almorávidas, pelos Cruzados, pelos Marroquinos (através da sua pirataria ), pelos portugueses ( que depressa desistiram pela compensação de Ceuta e Tanger ), pelos franceses napoleónicos, pelos ingleses, pelos americanos ( que ainda hoje lá dispõe de uma grande base aéreo naval - La Rota ).
Mas as constantes não são só geográficas. A velocidade estratégica média das operações terrestres, por exemplo, não evoluiu muito com o tempo. Uma força blindada moderna é pouco mais rápida que a cavalaria mongol do sec. XIII !.
As potencias marítimas estão relativamente defendidas desde que disponham da respectiva marinha que impeça qualquer tentativa de ocupação terrestre ( o desastre da “invençível” armada hispano-portuguesa a caminho de Inglaterra ) ou o corte duradouro das linhas marítimas com as possessões de além-mar .
(1)- O clima está em mudança acelerada. Sem a menor dúvida. Segundo a ONU e concretamente António Guterres, Alto-Comissário para os Refugiados, o desastre do Darfur não teria ocorrido sem estas alterações. Pensar o que será a debandada do Bengaladesh quando as águas subirem e as populações procurarem a sobrevivência em países como a Ìndia indu ou a China budista é um exercício pré-dramático. Que o clima está a mudar e se é preciso provas, basta lembrar que durante a ocupação romana, o Alentejo era um enorme bosque, de tal modo que o maior porto exportador de madeira do sul da europa para a Flandres era Alcácer-do-Sal, o que significava que barcos de grande calado navegavam no Sado, que havia por lá muita madeira, e que a curva pluviométrica era intensa de modo a encher o rio. Descrições da Idade Média, são coincidentes; e quem sabe que o último urso morto em Portugal foi abatido perto de Marvão numa caçada real em 1778 por D.João VI, sugerindo que as Beiras ainda eram um bosque ?
Quem se lembra da famigerada campanha do milho no Algarve nos primórdios da Salazarismo, ou da do trigo nos anos trinta e quarenta no Alentejo, que destruíram a maioria dos lençóis friáticos de água, e pré-desertificaram essas regiões? Desde 1974, ano em que cereais e a generalidade dos bens alimentares eram quase a 100% produzidos no país, hoje, Portugal importa 75% do que come e bebe.
A paralização dos camionistas está a de deixar o país com falta de alguns produtos, com destaque maior para os combustíveis. Mas carne, peixe, fruta ou legumes também estão a faltar”. Foi desta forma que a RTP abriu o Telejornal do dia 11 de Junho de 2008. Durante 5 dias o país estremeceu. E se estivesse-mos em guerra um mês? . Salazar teve esta premonição, quando, depois dos desastres do milho e do trigo lhe quiseram vender a ideia de que a monocultura da vinha era o futuro. Recusou por uma questão de soberania como me contou pessoalmente o Embaixador Franco Nogueira, em conversas de tardes inteiras que tivemos, seu ministro dos Estrangeiros muitos anos.
(2)- A meseta castelhana, um enorme planalto, foi sempre um pasto fácil para exércitos em marcha, o que não sucedia com as montanhas do Norte e Centro da Lusitânia ( como reflectiu o Marechal Junot quando por cá andou nas guerras peninsulares, ou o consul Sertório). Para além disso, sendo a generalidade da Ibéria feita de terrenos de erosão pouco produtivos só por si, em Portugal uma boa percentagem do Minho, vale do Vouga, do Mondego do Tejo e do Sado para além do Algarve são terras de aluvião, o que as faz muito mais produtivas.
(3)- A quase totalidade das mais antigas fronteiras da Europa ( et pour cause ) são de rios desde os maiores , Minho, Douro ou Guadiana, como de pequenos mas eficazes como o Erges nas Beiras.
(4)- Este é um assunto muito actual. O novo aeroporto de Lisboa, a rede de TGV de ligação à Europa, são uma necessidade geoestratégica para Portugal se combinados com o porto de Sines, o único de águas profundas da Península e um dos raríssimos da Europa.
(5)- Não havendo acordo sobre os elementos de que irrompeu a nacionalidade portuguesa, um há que é praticamente consensual: a tese de Jaime Cortesão dita geo-política ou marítima ( “Os Factores Democráticos na formação de Portugal”).
É a diferenciação geográfica, aliada à tipicidade do litoral, que dá uma feição de povo ao agregado aí estabelecido. Clima diverso do resto da Península, abundância de largos estuários ( é preciso notar que o litoral era muito mais rasgado do que hoje e alargava-se pelo oceano ( e.g. Tróia era uma cidade no interior!), funda penetração do oceano, existência de portos fluviais muito no interior da território (Ponte de Lima, Alcacer do Sal e.g.) permitindo trocas comerciais entre as várias comunidades. E da comunidade de consciências poderá ter surgido a consciência de se ser uma comunidade. No maior ensaio que conheço sobre as constantes da História de Portugal de Franco Nogueira, “ As Crises e os Homens “,podem os meus dois leitores e meio encontrar basta informação. Ou na obra de Oliveira Martins.
(6) - Tive a sorte de privar muito de perto com três ex-ministros de Salazar. Falei do que mais me marcou, mas recordo muito bem as longas manhãs passada com o Prof. Doutor Silva Cunha. Contou-me ele que um dia apresentou-se em S. Bento para comunicar ao Presidente do Conselho, Oliveira Salazar, na qualidade de Ministro do Ultramar e feliz como um cuco, que havia sido descoberto uma enormíssima jazida de petróleo em Angola ( onde a guerra estava instalada ). Salazar olha para ele, inclina-se no famoso cadeirão de couro, puxa os óculos para a testa , olha o tecto do escritório e diz: ”Só nos faltava mesmo mais esta!”.
(7)- Haverá povo mais homogéneo que o português?
( ii ) A geopolítica não é, no entanto, puro determinismo. O meio natural é apenas o quadro potencial no qual intervêm os factores humanos específicos que actualizam aquele potencial. “Toda a consideração geopolítica tem necessidade, diz Haushofer, de um ajustamento pessoal e heróico (….). A intervenção de uma forte personalidade põe um termo às buscas e às interpretações puramente racionais”.
Em 480 antes da nossa era, Leónidas resiste nas Termópilas somente com 300 espartanos. Em 334 antes da nossa era , Alexandre, com 37.000 homens, inicia a conquista do Mediterrâneo até à Índia. De 1519-21, Cortez com quinhentos soldados conquista o império Azteca. Em 15778-81, os 500 cossacos de Jermak desfazem o império do Khan da Mongólia e põe a Sibéria Ocidental nas mãos do Czar da Rússia. Em 1756-57 a pequena Prússia liberta-se do jugo franco-austro-hungaro coligados. Em 1385 sete mil portugueses escorraçam trinta mil castelhanos e conquistam a independência. Em 1964-74 cerca de cinco mil guerrilheiros do PAIGC batem um exército português de quarenta mil homens.
Há dois grandes tipo de potências: as marítimas e as continentais, com vantagens e inconvenientes: a extenção progressiva da potência continental para atingir a ocupação total do território acaba por enfraqueçê-la, mas também é favorecida pelos transportes modernos; as potências marítimas dispõe de defesas naturais mais fortes, mas dependem de matérias primas que as obrigam a conquistar pontos de apoio além-mar.
Em 1931, Georg Weneger declara que “ o impulso para a extenção do território é um dos sinais mais elementares e normais da boa saúde de um Estado. Daqui resulta um certo número de leis:
- Quando um Estado detém enclaves em território estrangeiro, o espaço entre ambos fica ameaçado de anexação. Assim, a união da Alçácia -Lorena à França, sob Luís XIV, foi precedida pela criação em território alemão dos bispados de Toul, Metz e Verdun; do mesmo modo, a posse pela Prússia de enclaves na Renânia fez cair Hanovre; e,a segunda Grande Guerra foi em muito motivada pela exigência do Reich ( = Império ) na cedência de um corredor territorial através da Polónia para o enclave germânico de Dantzig (na Prússia Oriental) ; não esquecendo o enclave de Berlim na Alemanha de Leste nos anos sessenta que l levou Kennedy a ameaçar com uma nova guerra mundial.
- Quando uma potência dispõe de possessões além-mar, sente a pulsão para conquistar pontos de apoio intermédios como foi o caso da Inglaterra, no passado, com a sua política de implantação ligada ao desenvolvimento da Companhia das Índias Orientais, bem como de políticas similares holandesas e portuguesas, ou ainda do corredor do Egipto à cidade do Cabo, através de toda a África, com que a raínha Vitória pretendeu unir em continuidade as suas possessões e levou ao mapa côr-de-rosa e ao ultimatum a Portugal (porque o território entre Angola e Moçambique ( a posterior Rodésia, bloqueavam a continuidade do corredor) o qual alavancou a queda da monarquia lusíada.
-Os Estados artificiais, criados pelas potências colonizadoras, traçados a regra e esquadro, não têm qualquer futuro (praticamente quase toda a África).
- Sempre que as potencias que, em princípio, se opõe no mesmo campo, são detentoras de forças semelhantes, o confronto tende a derivar para regiões periféricas ( como foi o caso dos conflitos regionais Afegão, Vietnamita, Coreano, do Médio Oriente etc, durante a guerra fria entre URSS e USA ).
- As nações insulares, caracterizam-se pela sua maior abertura que as continentais, a todas as sugestões e impressões exteriores (e.g., o Japão versus a China ).
- Exactamente por isso, quando as potências insulares ensaiam a ocupação em países continentais tendem a perder ( e.g.,o Japão e a sua presença na Manchúria, ou a Inglaterra no Afeganistão ou contra os Boers).
Com o correr dos anos, a atitude dos Haushofer ( o pai Karl e o filho Albrecht ) vai mudando, da inquietação face à política externa nazi até ao completo desacordo e junção à oposição.
Em Fevereiro de 1938, Hitler nomeia Joachim Von Ribbentrop Ministro dos Estrangeiros. A 12 de Março a Wehrmacht invade a Áustria e dá-se o Anschluss. Para os Haushofer a guerra é inevitável e Albrecht pensa fugir para o estrangeiro. Permanece para não abandonar a mãe. É também a opinião do seu amigo Rudolf Hesse, que declara: “Não posso imaginar que a fria e calculista Inglaterra se atirará de orelhas murchas nos laços dos soviéticos depois do Pacto germano-soviético”. Os Haushofer desenvolvem uma actividade febril com o apoio de Hesse e combinam um encontro com o jovem Marquês de Clydesdale (amigo dos primeiros), recentemente feito Duque de Hamilton, a realizar no território neutro português. É enviada uma carta à embaixada inglesa em Madrid que não chegará ao destinatário (na verdade só em 1946 o Duque a receberá ). Encontros prosseguem agitadamente com diplomatas na Suíça, e membros da resistência aristocrática.. Até que a 10 de Maio, Rudolf Hesse parte num Messerschimitt-110 e aterra na Escócia com os cartões de visita dos Haushofer e uma carta dirigida ao Duque de Hamilton. No dia seguinte, o Duque consegue falar com Winston Churchill que é sabido responder: “Quer convencer-me que o adjunto do Fuhrer está nas nossas mãos? Pois bem, Hesse ou não Hesse, eu vou ter com os Marx Brothers!”. Na Alemanha é a estupefacção, e Goebles põe a correr o rumor de Hesse ter sofrido de um surto de psicose delirante.
Logo após, Albrecht é preso pela Gestapo e encarcerado oito semanas, após as quais é libertado e autorizado a retomar os seus cursos de geopolítica sob vigilância.
Em 1942-43 os Haushofer prosseguem os contactos com a Resistência em particular com Carl Langbehn, Jens Peter Jessen, Erwin Plack, Johannes Popitz, etc. Depois do atentado a Hitler de 20 de Julho de 1944 são todos presos. Albrecht que desde 25 andava fugido nos Alpes Bávaros, é finalmente detido na prisão Moabit em Berlim onde escreve os célebres sonetos de Moabit e é executado na manhã de 23 de Abril de 1945. O seu pai, Karl, é internado no campo de Dachau. Em 1945 é julgado e libertado pelos americanos e a 11 de Março de 1946 no leito seco dum ribeiro da baviera, Karl e sua mulher Martha Mayer.Doss ( filha de um comerciante judeu de Mannheim ), suicidam-se com veneno. Rudolf Hesse permaneceu preso em Spandau até à sua morte.
É difícil apreciar hoje o justo valor da geopolítica, mas é líquido que ela permitiu conhecer muito melhor o papel da política “tout court”, das características climáticas, do tecido económico ou da subjectiva ideossincrasia dos povos, por exemplo. Dela nasceu a Defesa Nacional e suas doutrinas, entendida como política em que, muito para além dos exércitos, quase tudo num país é valorizado.
É por isso impossível não ver como a União Europeia é hoje, geopoliticamente, a Mitteleuropa alemã, entre os USA e a Rússia. Que os chineses, sem o reclamarem formalmente, têm debaixo de olho os territórios adquiridos pela Rússia Czarista no final do século XIX em virtude de “ tratados desiguais”; enquanto os russos que, em pleno sovietismo, tudo fizeram para colonizar com quarenta milhões de eslavos o território pós-Urais ( dos quais só restam sete milhões porque com a queda do muro de Berlim se assistiu à debandada da maioria para o ocidente) temem pelo futuro das Sibérias (que são a estepe de natural continuação da Manchúria) ; ou que não se note a convergência de Japão e China pela soberania das Ilhas Kurilhas que os soviéticos ocuparam ilegalmente no final da II Guerra; ou que a potência marítima dominante seja hoje a América, e já não a Inglaterra. Por exemplo.
( iii ) - Mas o estudo da geopolítica nunca parou e dentre muitas contribuições e doutrinas, cabe fazer referência ao Prof. Ray S. Kline da Universidade de George town, que tentou uma abordagem, que se mantém actual, do tema ( “ A Calculus of Strategic Drift ( Center for Strategic and International Studies ).
Chama-lhe política tectónica e propõe a fórmula :
PP= ( C+E+M) x ( S + W )
Aqui, C designa a massa crítica , isto é, o produto da população e da superfície territorial que são, segundo Cline, os dois factores determinantes do poderio das nações. E, representa a força económica avaliada pelo PNB, balança comercial, balança de transacções , déficit externo, e PIB potencial. A capacidade militar é representada por M. S e W correspondem respectivamente à estratégia nacional e à capacidade de vontade ( “will” ) do governo, baseado na vontade do povo para lutar. PP designa o poder aparente ( o qual influencia a vontade de lutar do povo ).
Utilizando esta fórmula para determinar as massas críticas das principais regiões do globo eu concluo que há várias regiões:
América do Norte e do Centro ; Rússia e satélites do Cáucaso; China e Indochina; Europa ocidental e Ucrânia; Norte de África e Próximo Oriente; Ásia Meridional; Índia e Ceilão; América do Sul; África Central e Meridional ; Austrália, Nova-Zelandia, Japão, Coreias e Filipinas.
À excepção da primeira zona, as restantes são periféricas: existem fortes pontos de fricção nas suas fronteiras.
( ii ) -SINAIS DE GUERRA
- GLOBALIZAÇÃO
É uma daquelas palavras que tem pretensões a explicar o mundo inteiro. E ainda por cima, cria a ilusão de que é inevitável e eterna. Não é, nem uma coisa nem outra.
Tal resulta de a “ globalização” vocábulo, criar outra ilusão: a de que vivemos num mundo unificado pela interdependência económica e tecnológica, como se esta não fosse apenas mais um passo da interdependência económica, e sobretudo comercial, iniciada pelas descobertas portuguesas.
Esta globalização, a actual, curiosamente já existia nas suas bases tecnológicas e políticas há décadas, mas só há uns dez anos, quando os efeitos económicos se verificaram massivamente, é que se passou a falar do assunto. Porquê?
Porque as condições políticas que a pressupõem, a saber, a submissão das potências de todo o mundo, às normas dos principais organismos internacionais (OMC, Banco Mundial, FMI ) só muito recentemente se verificou. A Índia e a Rússia recusaram a globalização até 1991, e a China iniciou a sua participação em 1979 mas só entrou no cumprimento da liberdade de comércio da OMC há uma década.
Se a entrada destas três potências fez a globalização actual, a sua eventual saída ou a saída de outras potencias como os U.S.A. ou U.E. lançariam o caos no comércio mundial. E a corda pode partir-se pelo lado ocidental, onde já germina em muitos sectores a nostalgia pela velha ordem ou pelo regresso ao proteccionismo. Na América, já temos o buy American, e na Europa os partidos mais proteccionistas ou de cariz nacionalista ganham pontos. Enquanto na China e Rússia ( como vimos antes, potências continentais, e por isso pouco afins à abertura a novas culturas, ao contrário do Japão, potência insular, e por isso muito mais aculturável ) regressa já não o marxismo, mas o Confucionismo ( que assenta no colectivo versus individualismo ocidental, bem como no respeito absoluto pelo chefe ) ou, na Rússia, onde se nota uma ofensiva normativa neo-eslava, tipicamente kzarista, na defesa da pureza da “alma russa” contra o “ individualismo ocidental”.
A economia chinesa é essencial para as economias indiana, japonesa e australiana, mas a tensão entre estas democracias e a China está a crescer. Durante o mês de Agosto, manobras envolveram, no mar Índico, as frotas U.S.A., Indiana , Japonesa e Australiana. Pela primeira vez, porta-aviões americanos funcionaram em conjunto com o porta-aviões indiano ( à espera de mais dois, em construcção ), fragatas japonesas e um novo porta-helicópeteros australiano.
Entretanto, ao mesmo tempo e numa visita à Mongólia, o primeiro ministro chinês anunciava a construção do seu primeiro porta-aviões….
A ECONOMIA
Desde Marx que ninguém discute a importância dos movimentos económicos no desencadear de guerras.
Actualmente, o previsível é que o Euro (moeda) sofrerá uma valorização excessiva e esse movimento enfraquecerá a posição competitiva das empresas europeias. E se o Euro atingir um valor demasiado elevado, então o BCE poderá ver-se forçado a uma irresponsabilidade: a desvalorização. O que acontecerá mais depressa se as moedas das potências emergentes mantiverem a sua indexação à nota verde.
A alternativa mais provável, neste caso, à desvalorização do Euro, será erguer barreiras alfandegárias, ou seja a política do proteccionismo. ( leia-se “ A ORIGEM DAS CRISES FINANCEIRAS” de George Cooper ou, “ O REGRESSO DA ECONOMIA DE RECESSÃO E A CRISE ACTUAL” de Kruggman).
Soluções foram avançadas para impedir estes cenários. O regresso ao ouro como referencia padrão; o Euro como substituto do dólar como moeda padrão; um cabaz de moedas das cinco potências mais relevantes, ou alternativamente uma nova moeda mundial como foi o ECU antes do nascimento do Euro para a
Europa..
Na esteira de que os afrontamentos económicos entre potências vão novamente tomar um lugar cimeiro na cena mundial, surgiu recentemente, pela mão de Christian Harbulot uma nova “ ciência” designada IE ( inteligência económica) que “ explora a acção coordenada e sistemática de recolha, tratamento e difusão da informação útil para os actores económicos para fins estratégicos e operacionais” ( dizem ao manuais ). Não sei o que de substantivo possa aqui estar para além da vulgar espionagem económica. Mas o simples facto de existir com ar de ciência, é sugestivo da gravidade da situação que vivemos. E , explicam: uma grande parte do poder que foi da América dependia do “credo” dos outros sobre a sua capacidade económica. Era a estratégia do “soft power”. Mas a recente perda de legitimidade do discurso liberal capitalista, discurso ideológico que afinal não era o último da História,, o declínio de sectores inteiros como o dos automóveis ou dos microchips em todo o Ocidente, vieram subtrair a confiança das potências emergentes no tal Ocidente. Em consequência, gesto jamais visto, no dia 1 de Julho de 2009 (este ano) quando o Secretário do Tesouro de Obama, Timothy Geithner , assegurava a uma plateia de estudantes de economia chineses , na China, que os activos chineses em dólares não corriam risco, foi recebido com uma gargalhada geral.
Em certa medida, a História repete-se, e a China seguiu muitas das pisadas do Japão, o Estado estratega dos anos 70/80. Mas os chineses estão a juntar às receitas de patriotismo económico japonês o “savoir-faire” dos regimens comunistas e da arte da dissimulação - sendo que, como potência continental, são pouco permeáveis a novas formas de viver em sociedade ( como vimos ).
Quanto à economia portuguesa, o que digo é que, a maior recessão mundial de sempre - a actual - veio permitir atenuar os efeitos desastrosos do novo choque petrolífero e dar tempo a que a mudança ( real ) estrutural ( veja-se os números da educação, média liceal ou universitária de pós doutoramentos e de cientistas) , ou seja o “ choque tecnológico”, tivesse “espaço” para se desenvolver.
Para que se tenha uma ideia, o crude não afecta somente a taxa de inflação, mas tem igualmente enormes custos no desenvolvimento económico. Calcula-se que uma duplicação do preço do petróleo tenha um impacto negativo na taxa de crescimento acumulado do PIB de cerca de 2/3%. Dado que ninguém duvida que o crude vai disparar logo que a retoma chegue, podemos dizer que o decréscimo da taxa do desemprego não vai acontecer tão cedo, nem em Portugal nem nos outros países do Ocidente, sendo que o mais provável é que nos tenhamos de habituar a altas taxas permanentes de desemprego por larguíssimos anos, o que nos vai conduzir a uma crise social única nos últimos cem anos.
Para que se tenha uma ideia dos preços do petróleo ultimamente descoberto, direi que, de acordo com o Cambridge Energy Reserch Associates regiões como o Golfo do México, o off-shore de Angola e do Brasil necessitam de um preço superior do crude de 80 dólares para serem rentáveis .
É claro que eu sei bem que outras crises económicas bem maiores que a actual, já por cá andaram: a crise de 1870/1874 teve uma recessão de 23%! E a de 1888/1893 de 14%! E a de 1918/1924 de 30%!, mas nessa altura, o Estado não tinha as despesas fixas sociais que hoje tem, nem os cidadãos a incompetência de saber que não há direitos adquiridos!.
CRISE SOCAL
Daí que seja previsível em todo o mundo Ocidental ( isto é, nas potências com Segurança Social construída ) um autêntico terramoto.
A pirâmide etária desapareceu para dar origem a um cilindro etário ou até uma pirâmide invertida.
Quando andava-mos por 1910 - há cem anos ( e não na Idade Média ) - a esperança de vida dos portugueses, segundo os estudos do doutor Ricardo Jorge que aprendi na Faculdade, não ultrapassavam os quarenta anos à nascença. Hoje ultrapassam o dobro, aumentam 1 ano de três em três anos, e deixam um mundo de velhos com despesas que só o orçamento Geral do Estado tem podido suportar.
Nessa altura, trabalhava-se praticamente toda a vida (há somente cem anos ) a partir dos dez anos ou menos até morrer, e sem gastos para as políticas sociais!. Acontece agora que as despesas da saúde e da segurança social são, por si mesmas, insuportáveis, tanto mais quando o Estado está tão endividado que para pagar as dívidas ao exterior e se esse esforço fosse igualmente dividido por todos os portugueses, cada um teria de despender 1500 Euros !( não há engano nos números ).
Neste sentido, em vésperas de eleições, quem achar que governar é fácil, que dê um passo em frente!
E medidas extraordinárias vão ter que ser tomadas. Mas não é descartável que ocorram sem conflitos sociais graves. Este ano, em Abril, a Irlanda apresentou um orçamento de emergência com generalizadas subidas de impostos sobre consumo (IVA) e rendimento (IRS). O Reino Unido decidiu que para além das mesmas subidas de impostos , a partir de 2010 os escalões mais elevados de IRS passarão de 40 para 50%.. Em todos os países bálticos aconteceu o mesmo. Em Maio, o governo Húngaro aumentou o IVA em 5 pontos. A Roménia despediu funcionários públicos e subiu três pontos as contribuições sociais. A Polónia reduziu subsídios e subiu impostos sobre o consumo. Em Chipre houve uma reforma das pensões obrigando a mais anos de trabalho e menores pensões. Em Malta foram travados subsídios à energia e cortada despesa.
É verdade que muita gente já compreendeu que o modelo de poupança durante a vida de trabalho para a reforma digna tem de regressar. Mas muitos outros, nem sequer compreendem que a Segurança Social se baseia em descontos, que se fazem ao longo da vida, para se receber uma reforma nos últimos anos , sendo que os que mais descontam o fazem em favor dos que menos descontam, mas todos têm que descontar para poder receber. Temo que o hábito ( de agricultores ou domésticas ) de receber sem antecipadamente contribuírem, não tenha sido enxergado pela maioria.
E isto é importante porque a tendência das potências com tensões internas, é sempre o de pacificar o povo arranjando-lhe um inimigo externo.
O CLIMA
É o último dos grandes actores que vão influenciar o despoletamento da próxima Grande Guerra.
Como já anteriormente disse aqui, a ONU entende que o conflito do Darfur não teria sucedido sem as alterações climáticas que se verificam. Aí, não se tratou dos povos do Sudão do norte ( que são muçulmanos ) contra os sudaneses do sul ( que são animistas ou cristãos ), mas sim da deslocação massiva de povos em busca de terras minimamente férteis para sul, porque o Norte ficou deserto.
Também já aqui disse que com o degelo das calotes Árticas e Antárticas o nível dos mares vai subir para altitudes que vão tornar sub-aquáticas terras como o Bengladesh com larguíssimas dezenas de milhões de habitantes, como ilhas Comores, como as Scheisseles, ou boa parte dos atóis do Pacífico como os do Havai.
Para quem ainda duvide, cépticos racionalistas que no entanto aceitam argumentos quando isso implica grandes gastos de dinheiros, aqui fica: o presidente Obama pediu e já recebeu um relatório da Universidade de Defesa Nacional ( uma instituição do exército americano) que avaliou o impacto potencial de uma inundação no Bengladesh que originasse um fluxo de centenas de milhares de refugiados para os países vizinhos.
A mesma universidade fez estudos que concluem que dentro de vinte a trinta anos, regiões vulneráveis como a África subsariana, o Médio Oriente, e o sul e sudeste asiáticos irão confrontar-se com escassez de alimentos, falta de água potável e inundações catastróficas. O senador John Kerry, presidente da Comissão das Relações Externas do Senado, está encarregue por Obama de produzir legislação sobre energia apelando para “ argumentos de segurança nacional “.
E, para quem seja ainda mais céptico : foi dada ordem pelo Presidente, para procurar alternativas para bases militares que vão desaparecer, porque são vulneráveis quer à subida do mar quer a tempestades. Na Florida, a base aérea de Homestead foi já praticamente destruída pelo furacão Andrew em 2002, e a Estação Aeronaval de Pensacola foi gravemente danificada pelo furacão Ivan em 2004. Estrategos militares estão a estudar meios de protecção para as bases navais de Norfolk, Virgínia e San Diego contra a subida do mar e tempestades. Mais vulnerável está Diego Garcia, um atol no Índico que serve de estação logística para as tropas britânicas e americanas no Médio Oriente e que se situa poucos centímetros acima do nível do mar.
O derretimento do gelo do Ártico apresenta graves problemas. Com o degelo que está a acontecer, abriu-se ( para já durante 3 meses por ano ) um canal navegável que permite a passagem do Alasca ao Japão em três dias.
Pior que isso, facilita o acesso ao que se julga serem as maiores reservas de gás do mundo, e enormes jazidas de crude. Por causa disso, há seis anos, o governo russo enviou um submarino que “plantou” a bandeira russa a cinco mil metros de profundidade no polo norte. A área é disputada, além da Rússia, pela Noruega, Dinamarca ( via possessão da Gronelândia ), U.S.A. ( via Alasca ) e Canadá.
Em 23/6/2009, o general Anthony C. Zinni, num relatório que elaborou como membro do Conselho Militar Sobre Energia que realiza investigações para a Marinha dos U.S.A., escreveu: ” vamos pagar para reduzir as actuais emissões de gases com efeito estufa e acabaremos por sentir o impacto económico. Ou vamos pagar o preço mais tarde, em termos militares e isso envolverá vidas humanas “.
Muitos outros exemplos poderia dar, como o da devastação da tundra na estepe da Sibéria e da Manchúria, e seus prováveis efeitos militares. Mas não quero agoirar.
SINAIS ÚNICOS
Assiste-se hoje á robotização das forças armadas. Isso vai continuar, na medida em que os governos tenham que se submeter ao plebiscito democrático, e por isso, ter de ouvir a opinião pública, que no Ocidente, não está preparada para “desejar” a guerra ( o Will da fórmula que apresentei atrás ).
Em meados de Agosto, o líder da Al-Quaeda no Paquistão, foi morto por um míssil lançado por um avião não tripulado teleguiado… do território dos U.S.A ( os VAN , veículo aéreo não tripulado ). Isto é a guerra robotizada.
O problema maior que a robotização da guerra coloca é a da perda dos instintos de comiseração para com o inimigo.
Como a etologia demonstrou, há um instinto (“imprinting “)que faz com que um humano se apiede de um outro que se dá por vencido, oferecendo-lhe, e.g. a jugular. Ora esse efeito protector da espécie humana desaparece quando os homens que lutam, os soldados, não estão face-a-face, como nas anteriores guerras ( quando assim não aconteceu ocorreram massacres como Dresden , bombardeio de Londres, ou Pearl Harbour. Sem falar em Hiroshima e Nagasaki).
O perigo subjectivo de autênticos genocídios começa aqui.
Mas, a lei do filho único, que vigora na China há três gerações não mete menos medo. Porque um filho único educado por um filho único, que foi educado por outro filho único, e que só brincou com filhos únicos, não pode ter aprendido senão o egocentrismo, o egoísmo, a amputação dos afectos ligados À COMPAIXÃO. O que isso pode significar na guerra é , para mim, aterrador.
Outra questão muito importante passível de a curto prazo ser fonte de confrontações, diz respeito aos enclaves territoriais como ilustrei com a história do corredor de Dantzig na II Grande Guerra.
O mais grave no imediato é a Faixa de Gaza versus Cisjordânia. Dificilmente se poderá construir o Estado Palestiniano sem um corredor que una estes territórios.
Todavia o grande enclave Russo de Kalininegrado, território e porto de mar no Báltico, que é a única saída para aquele mar que a Russia detem, parece um problema muito mais grave. Entalado entre a Lituânia a norte, e a Polónia a sul, é considerado pelos russos uma indignidade que deve ser revista.
Mais delicada é a situação na península da Crimeia, com dois milhões de habitantes dos quais mais de 60% de etnia russa, um enclave no sul da Ucrânia. Desde os Csares que o território era russo, mas em 1954 por razões administrativas, Nikita S. Krushchev decidiu integra-lo na Ucrânia: Em 1991, com a queda da União Soviética, a Crimeia  e a sua base naval de Sebastopal onde está sediada a maioria da frota russa e a única com acesso ao Mediterrâneo, deixaram de ser russas, podendo os militares russos manterem-se lá apenas até 2017. A guerra na Geórgia que terrminou há um ano com a anexação da Ossétia do Sul e da Abcásia, tiveram como origem este conflito da Crimeia. Para os russos, é solo sagrado onde bateram ingleses na Guerra da Crimeia e Nazis Alemães na II Grande Guerra.
Na América do Sul há duas questões pendentes. Uma prende-se com a necessidade da Bolívia, que sobre isso reivindica direitos históricos, encontrar uma saída para o Pacífico através de duas nesgas de terra, uma pertencente ao Peru e a outra ao Chile. Esse corredor, desembocaria entre as cidades ribeirinhas do Pacífico de Tacna e Arica. A recente descoberta de enormes jazidas de Gás e crude na Bolívia torna a necessidade de uma saída para o mar mais premente.
Outro conflito latente sul-americano prende-se com a fronteira entre a Argentina e o Paraguai, na zona de fronteira do rio Paraná, questão que , no passado já motivou duas guerras entre aqueles países, sendo que Brasil não é alheio à questão.
De resto, outros sinais de alarme estão à vista : no início deste ano, a Rússia conseguiu o direito dado pela Venezuela para usar as suas bases aeronavais; Por alturas de Abril os U:S:A:, reabilitaram a IV Frota naval ( dissolvida desde 1950 ) comandada por um porta-aviões, que passou a navegar ao largo da costa venezuelana e brasileira (isto ocorre quando o Brasil descobria imensas reservas de petróleo e gás na plataforma submarina ); o Brasil protestou e mandou construir um novíssimo porta-aviões, a somar ao que já tem e andava obsoleto; há um mês, de novo os U.S.A., contractualizam a construção de sete bases militares na Colômbia….
Aliás a questão petrolífera ainda é mais perigosa pela parte Russa e Chinesa . Os primeiros, depois da chantagem feita à U.E. a propósito da Ucrânia, tentaram comprar à Argélia todo, repito todo, o seu petróleo ( o mesmo que abastece Portugal e Espanha e é o único gasoduto para além dos que chegam da Rússia ou através dela; não conseguiram o negócio, porque a União actuou; todavia um mês passado e deram mais um passo para cercar a Europa, quando acordaram com a Nigéria a compra de toda a produção nigeriana, sua refinação seu transporte até ao mediterrâneo, através do centro de África, e de uma empresa chamada Nigaz de capitais russos com o valor inicial de 2 biliões de euros; e a China não pára de fazer parcerias em todo o continente, africano para obtenção de matérias-primas com quem quer que lhe apareça pela frente, designadamente há 15 dias com São Tomé e Príncipe…
A última questão, a mais grave a meu ver, refere-se ao W de will  (vontade de ir à luta )  presente na fórmula geopolítica explicada na primeira parte deste ensaio.
O futuro Kaiser Guilherme II perguntou ao seu mestre de equitação prussiano o que era mais importante para saltar obstáculos : as características do cavalo, as do cavaleiro, as dos arreios ? “ O coração sire“, respondeu o Junker. “o resto vai atrás “. Muita gente que conheço está disposta a bater-se pela sua Pátria, mas não conheço ninguém disposto a morrer pela União Europeia…. É verdade que a U.E. é a base do bem-estar dos europeus, mas em tempo de guerra - e a guerra virá um dia, tal como a gripe anunciada desde há cinco anos - não é defensável que os corações se anichem no pacifismo. Salvo honrosas excepções, os orçamentos militares europeus andam desde há sessenta anos muito abaixo do necessário. Talvez mostrando aos cidadãos da Europa que se ela desaparecer não é preciso bem-estar nenhum e eles decidam armar-se. Porque, é da História: a melhor forma de evitar ter de fazer uma guerra é prepararmo-nos para ela.

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