terça-feira, 7 de abril de 2009

A SEMÂNTICA DO CASAMENTO
Um dos elementos necessários para nos fazer-mos compreender quando pretendemos defender uma opinião sobre o que quer que seja, é o uso de palavras comuns à comunidade- o léxico - a que nos pretendemos dirigir.
É claro que, ao léxico, deve corresponder a respectiva semântica, quer dizer, o comum significado de cada palavra ou de cada expressão- a semântica- sob pena de uns falarem de alhos e outros de bugalhos.


Assim sendo, facilmente se entende que se a semântica comum constrói uma comunidade de consciências, é também verdade que uma comunidade de consciências resulta sempre da consciência de constituirmos uma comunidade.


É por isso mesmo que sem um léxico que estavelmente se conjugue com a respectiva semântica - enquanto instrumentos de comunicação e discussão opinativo - não poderemos jamais entender-mo-nos uns com os outros dentro da mesma comunidade cultural.


De tal modo é assim, que a maioria dos intelectuais que não sabem o que pensam ou o que pretendem dizer, têm por hábito um de dois truques: ou se escondem nos seus "ensaios" por detrás de léxicos ininteligíveis para o comum dos mortais assim os atemorizando com tanta erudição de dicionário; ou, então, os intimidam com a ambiguidade das palavras que utilizam em catadupa.



É por isto que podemos medir a honestidade intelectual através da dimensão da clareza das palavras ou do falar- ou seja, da clareza das ideias.
Intelectual que se preze e não queira passar por embusteiro, tem de falar e escrever de modo inquestionavelmente inequívoco. Caso contrário, é um vigarista do pensamento, um "flop" .







FIXIDEZ DO LÉXICO E EVOLUÇÃO DO SEMÂNTICO


Frequentemente, os político-jornalistas, ou, os jornalista-políticos, para já não falar dos "comentadores" e dos "intelectuais" da nossa praça, tendem a justificar as suas bizarras opiniões com a "evolução semântica", segundo eles, uma espécie de tradução em calão da evolução da humanidade e sobretudo da civilização!.


Ora, a evolução semântica é, como se sabe, outra coisa.
Todos sabemos que é a evolução do significado das palavras de uso diário, através de sucessivas mutações, que adequa novas e até então desconhecidas realidades ao discurso oral dos falantes.

Assim como o léxico, é uma espécie de geografia das palavras e, como todas as geografias é praticamente estática, a semântica é uma espécie de história das palavras com o seu dinamismo natural- Repito, natural!.


O que sucede é que as palavras têm um sentido original que com o uso, abuso, ou usura por parte dos falantes no quotidiano, vai, popular e lentamente, adquirindo um segudo, um terceiro, ás vezes mais sentidos até se fixar geralmene no ou nos últimos.।
Mas são sempre os falantes que vão dando ( e sempre muito lentamente) ao vocábulo, e por razões de familiaridade lógica, um ou dois significados.


Por exemplo: a palavra "regateira" durante séculos significou exclusivamente "vendedeira", mas como na Idade Média era comum as vendedeiras se comportarem histrionicamente, esbracejando, gritando, teatralizando, dramatizando, enquanto procuravam vender nos mercados, nas ruas, ou de porta-em-porta, utilizando uma linguagem chã e discutindo tudo e por tudo, "regateira"- com o correr dos anos -passou a significar já não a comerciante, mas sim a mulher de maus modos, de palavra e insulto fácil e modos provocadores; e "regatear", passou a significar a discussão tendente a baixar o preço das coisas que nos propomos comprar.


É verdade que, raras vezes, a evolução do sentido vocabular é mais erudito. Por exemplo, na mesma Idade Média, os detentores da erudição sobrante do Império Romano, promoveram, por mecanismos linguísticos simbólicos e sincréticos a transfiguração triangular da Santíssima Trindade num círculo que remetia para a óstia ou partícula consagrada. Mas estes, sucedendo no curso de muitas gerações, jamais ocorriam por decreto da nobreza, ou por bula papal!


Também não lembraria ao diabo que a Monarquia, a República, ou dentro desta, o Estado Novo, decidissem que em Portual se falasse o galaico-português ou o mirandês.
E o que é certo, é que o povo esqueceu o primeiro e recuperou o segundo. Mais, foi o povo no seu falar que o fez, e não, nunca, a política e os políticos da época, que o fizeram.

É que "casamento", em português, mirandês, grego ou latim - bem como em qualquer das línguas do Ocidente, das clássicas derivadas, só tem um único significado: o da união/associação de duas pessoas de sexos opostos como acto fundador de uma nova família e propendendo à criação de descendência que pode, ou não, vir a conseguir-se.


No que toca á existência de descendência através dessa nova associação/união, o mínimo que pode dizer-se é que, em condições vulgares, o seu não conseguimento é geralmente alvo de perguntas e interrogações por parte dos familiares, dos amigos e, até, dos simples conhecidos, e por isso mesmo experimentado e vivido com evidente constrangimento pelo novo "casal".


Sendo assim de um ponto de vista jurídico e teológico, só há uma excepção a esta regra geral sobre o significado/sentido, do vocábulo "casamento": a sua utilização como metáfora ( expressão que provém do grego "metaphora", que significa "transporte" - transporte do real para o significante figurativo). É, por exemplo, o caso de dizer-mos que na II Grande Guerra os soviéticos estabeleceram um "casamento" de interesses com os nazis para derrotar os Aliados...,ou que, também como exemplo, uma boa alheira "casa" sempre bem com um bom tinto, grelos e ovo estrelado!.
E, toda a gente aqui percebe que não se está a falar do casamento propriamente dito.


É por tudo isto que, decretar que a partir do dia X, "casamento" tem o significado/sentido de uma associação/união entre dois homens ou duas mulheres tem a mesma lógica que decretar que a República passa a ser presidida por um rei, ou a Monarquia por um Presidente da República!. Até que os falantes, ao longo de gerações entendam uma outra coisa, casamento será entre um homem e uma mulher pura e simplesmente. Poderá "casamento" então e só então vir a ter outros significados/sentidos, não metafóricos, pela evolução de que se faz a língua. Mas não pelos decretos que a desfazem.


Aliás, se mais não fôra, bastaria recordar a postura da generalidade dos escritores brasileiros e portugueses face ao Acordo Ortográfico que aí vem. O que de todos os que se pronunciaram ouvi, foi que continuariam a escrever como sempre, inovando aqui ou ali, ou criando um ou outro neologismo, como sempre fizeram, para que os falantes os compreendessem e melhor entendessem o que pretendiam dizer.




A Questão da Igualdade


Para além da semântica do "casamento" os defensores do casamento de homossexuais, esgrimem sistematicamente outro argumento de peso: o da "igualdade".
Dizem eles, que a igualdade moral, ética, jurídica e política (que no fundo abrange as restantes)
está a ser espezinhada hodiernamente. E que por tal motivo há descriminação.
Pois é!. Dando de barato que a igualdade política (que abrange as restantes e é em si um bem - o que está por demonstrar ) vou então tratar dela.


O problema da igualdade e da não descriminação é uma questão da ordem natural e racional das coisas, mas não da ordem racionalizadora. Vamos à ordem natural e racional primeiro.


Foi a natureza, seja lá o que issso fôr - e não o legislador ou a civilização - que fez o homem diferente da mulher nos campos do psicológico, do fisiológico (designadamente do hormonal), e do fenotípico (anatómico e biotipológico ) diferentes.
Diferentes, e por isso mesmo suplementares e complementares nesses três domínios. Porque é, precisamente por isso, que homens e mulheres são suplementares e complementares. Por que sendo a sua inteligência mais emocional nuns que noutros, bem como a afectividade mais inteligente nuns que noutros - na generalidade -, sendo a fisiologia paradigmática para qualquer dos géneros, e sendo a anatomia e sobretudo a biotipologia tão diferentes ( que até se exprimem no número, na forma e no conteúde de pedidos de ajuda aos médicos), diferente tem de ser a estrutura e a funcionalidade social dumas e doutros.


A igualdade dos sexos só pode assim colocar-se no plano do estritamente político, ou seja da dignidade social ( e não pessoal) e nos direitos da pessoa. E, dentre estes direitos da pessoa HUMANA somos obrigados e convidados a incluir o respeito pelas especificidades do género uma vez que nenhum deles decidiu o seu para denegrir o outro.
Mais: essa igualdade na diversidade digna, é tanto maior quanto os géneros se aceitarem como diferentes visto que não é nada dignificante para a espécie um homem funcionalmente mulher ou vice-versa!


É do campo do possível que com uma longuíssima evolução darwiniana da espécie, se venha a verificar que para a sobrevivência da espécie .... é melhor uma nova lenta mutação semântica que proponha que o vocábulo "igualdade" venha a querer dizer "diferença". Pode ser que sim! Por mim, fico à espera - sentado.


E, por fim, para não cair no mais torpe e vil reacionarismo não vou escrever que, se para nos entendermos, a Lei define casamento como " o contrato celebrado entre duas pessoas de sexo diferente,etc,etc," se pretende agora em nome da não descriminação e da igualdade de sexos ( porque não de sexo, já agora?) acabar com a expressão de "sexo diferente", porque não eliminar também a expressão "duas pessoas"?, e eliminar também contrato?,e já agora "celebração" porque afinal o casamento só dá chatices.....
Tal como aquela da Julia Roberts que desabafou: "Andamos nós, as mulheres , há tanto tempo a lutar pela igualdade e porque será que ainda agora só os grupos de mulheres é que passam o tempo a criticarem-se umas às outras?"


E muito menos, vou cair naquela manifestamente de cunho fascizante que propõe que se a questão é semântica e de direitos das minorias, por que diabo não há-de o Bloco de Esquerda propôr o hodierno casamento, (casamento futurista,já!) entre dois homens e duas mulheres, o casamento poligâmico, o casamento poliândrico, o casamento-a-dias, o casamento assim-assim, o casamento de pernas-para-o-ar, o casamento com o Papa, o casamento.....,ufa!,enfim....

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