domingo, 26 de abril de 2009

O Senhor Presidente da nossa República





"Quem não sabe rir, não é sério!"
( C-S.P.)

Júlio César :" Eis Cássio, com a sua aparência esguia e faminta; ele pensa demais: tais homens são perigosos"
(Shakespeare in Julius César, i,2,192)





O Senhor Presidente da República entendeu, como agora usam dizer os comentadores da coisa pública enviar recados ao Governo através dum discurso oficial. E, sem desmentido oficial, foi entendido como estando a enunciar críticas ao nosso primeiro ministro eleito José Sócrates. Daí se deduziu que o nosso Presidente da República Aníbal Cavaco Silva criticava o seu/nosso Governo em coisas tão graves como as de governar (na época mais difícil desde a I Grande Guerra) a favor das estatísticas de bem governar contra o país; e de governar sem pensar no futuro dos futuros portugueses.



Parece, então, que o senhor Presidente da República quer - no mínimo - um Governo mais perfeito - à sua imagem de personagem perfeccionista.



Mas o que é um perfeccionista?.... Para que a gente perceba o que move o Senhor Presidente...



Um perfeccionista só gosta do óptimo - que é inimigo do possível.
Por isso, o perfeccionista detesta o bom - mesmo quando é o único exequível.
Por isso o perfeccionista desdenha do prazer do arco-íris, pois só vê a preto e branco.
Por isso, prefere a forma em vez do conteúdo.
E também, por isso mesmo, borrifa-se para a substância.


Precisam os outros de um pouco de conforto, dadas as circunstâncias? Mas que importância tem isso para o perfeccionista?


Pela mesma razão, na sua miudeza, ao perfeccionista interessa a táctica sem perceber a importância da estratégia.
Ou prefere o detalhe da governação aos princípios geopolíticos que a antecipam.
O perfeccionista não aceita lenitivos, apenas cirurgias radicais. Mesmo que à custa da vida!
Logo, não se contenta com soluções transitórias como as de dar de comer aos famintos, mas tão só com soluções definitivas - como se a vida não vivesse da mudança do quotidiano de todos os dias!


É por tudo isto que o intrínseco perfeccionista, só podendo ter soluções óptimas, ou seja ideais, se transforma com o tempo no juiz de todos os outros: no plano dos costumes, no dos usos, e no dos princípios a que teima em chamar de valores! Desde que sejam os seus.



Sendo assim, e vendo que os dados ( os seus ) contrariam a realidade, dão consigo a pensar:"tanto pior para os dados! E persistem, em busca não de uma solução ,mas da SOLUÇÂO!


E o tempo a passar, e eles ,muito seguros de si ! (ah! ah! ah! ) à procura da SOLUÇÃO!
Julgando-se tenazes sem perceber que são apenas teimosos.
Mas suspeitando lá no fundo ( porque a busca da perfeição não lhes deixa tempo para eles mesmos, nem para as suas dúvidas, nem para as suas necessárias buscas) que assim não vão a parte nenhuma.
Porque, meus senhores, os perfeccionistas só o são porque....são inseguros de tudo!



Tão inseguros de tudo que nem admitem que o sejam! Porque são uma casta à parte.
São definitivos, definitivamente. Democratas nem que seja em ditadura. Pacifistas nem que seja a guerrilhar!. Valorosos na defesa dos seus pontos de vista nem que seja a mussitar! . Porque tem o hábito de protestar com boas maneiras - um perfeccionista só pode ter boas maneiras, que diabo! - só protestam a mandar recados, baixinho, pianíssimo, a mussitar o inaudível geralmente, e sempre o incompreensível!.


E porque navegam num pensamento em circuito fechado, porque único, porque deles, os perfeccionistas terminam sós e sozinhos.
Porque numa sociedade de pecadores - nas igrejas, nas morais, nas empresas, nas profissões - só alcançam ser os solilóquios dos silêncios dos outros perfeccionistas.
E, todos juntos, ficam-se tão diferentes, tão inteligentes, tão “uniques“, tão amargos, tão zangados com o mundo que se reuniu para os tramar ( como os “paranoides” ), tão críticos e tão juízes, e tão iluminados..., enfim, e tão inúteis!, que acabam por,

não atingindo o óptimo, entendem melhor não fazer nada,
e assim permanecerem inatacáveis!









O PODER E A AUTORIDADE



O actual senhor Presidente da nossa República já foi durante dez anos o nosso Primeiro-Ministro.
Durante esse tempo recordo quatro dos seus actos de governante:
Primeiro, não previu a recessão (ligeirinha) que se abateu sobre o nosso país --- este país tem nome e chama-se Portugal ----- nos anos de 1993/4,nem, ao olhar aos critérios de responsabilização do actual governo, preparou Portugal para isso.
Segundo mergulhado em dinheiro comunitário até ao pescoço não só não morreu abafado com falta de ar, como ainda decidiu inventar uma classe média ( só fazem sentido numa sociedade como a nossa as classes médias que se auto-construam com as resistências que as preparem para as dialécticas que vão experimentar, nunca por nunca as que um qualquer governante cria por decreto de injecção espúria de dinheiro) pelo aumento de trinta por cento no ordenado mensal a todos os funcionários públicos (cerca de setecentos mil portugueses).
Terceiro, com um argumento de estarrecer ( dar lugar aos jovens em detrimento dos maiores de quarenta e cinco anos) permitiu reformas antecipadas a troco de menos de quinhentos contos (à época) possibilidade que foi por quase toda a função pública aproveitada e que ficou conhecida como "comprar anos". Ou seja, quem quis, e por cerca de quinhentos contos pôde comprar mais de quinhentos em cada um de todos os anos de aposentação!...

(agora protesta S. Excelência pelo desmantelamento da classe média!)


o que somado ao regabofe do segundo ponto, muito bem explica o deficit em que o actual nosso governo encontrou as contas publicas.
Quarto, indignou-se sempre que os Presidentes da República "o não deixavam trabalhar".
Lembram-se?




Pergunta-se:
Tem S..Excelência. poder para ter feito o que fez e agora criticar o actual nosso primeiro-ministro?
Resposta:
Claro que tem, mas o que não tem é autoridade.
Passo a expor:



Se eu entrar num banco comum e exibir ao caixa um cheque devidamente preenchido com determinada quantia em euros tenho a autoridade de levantar essa quantia porque tenho um documento que me autoriza ou me dá autoridade para fazer esse levantamento. Levantamento que eu poderia fazer se exibisse ao mesmo caixa uma pistola e exigisse o dinheiro usando a dita como trunfo.
No primeiro caso tenho autoridade, no segundo tenho poder!
Então, se o efeito - sair do banco com o bolso cheio - é o mesmo, qual é a diferença?


É que:
O poder é positivo, enquanto a autoridade é natural (no plano filosófico)
O poder é institucional, e a autoridade é ética.
(é por isso que chamamos ao simples polícia agente da autoridade, visto que presumimos, e bem, que estando, ele polícia, dependente da instituição Polícia de Segurança Pública, instituição legal, também legitimada pela comunidade, passa a ser assim irrelevante chamar-lhe elemento de poder ou agente de autoridade).
O poder tende a corromper e sujeita-se sempre ao teste da corrupção, enquanto a autoridade modela virtudes (serve de exemplo a outros o nosso bom comportamento).
O poder recebe-se ( ou por nomeação ou por eleição), mas a autoridade conquista-se no comportamento quotidiano.
O poder (pelo que antes fica dito) tem o limite do tempo da instituição, enquanto a autoridade o limite do comportamento pessoal.
O poder (é assim) delegável ( um general pode delegar num major as competências que quiser) mas a autoridade, sendo subjectiva (quer dizer do sujeito A ou B) não o é.
Porque o poder obriga e a autoridade sugere, convida, ou coage.
O poder é assim imposto, e a autoridade impõe-se.
O poder é "a priori", e a autoridade "a posteriori"
O poder é objectivo, e a autoridade subjectiva.
O poder tende a abusar, e à autoridade só compete usar.
O poder é sempre táctico, a autoridade é estratégica.
O poder não necessita de coerência, mas a autoridade exige-a.





Um exemplo: há algum tempo uma minha amiga foi autuada por um agente da G.N.R. Ia a conduzir enquanto fazia uso do telemóvel. O elemento da Guarda deu-lhe ordem de paragem e multou-a enquanto usando e abusando do poder (legal) que detém, com um subjectivo jogo de palavras ,objectivamente a maltratar. A actuação do G.N.R. sendo legal baseou-se exclusivamente no uso do poder em total detrimento da autoridade.
À força sem autoridade chamamos nós bestialidade....





Assim, aqui chegados, facilmente se compreende que qualquer Poder ( seja natural como o dos pais, ou legitimado pelo consenso - maioria democrática com o requisito prévio da aceitação comunitária do resultado eleitoral - como o do Presidente da República, sendo necessário não é suficiente sem a correlativa Autoridade.
Terá o nosso Presidente da República a autoridade necessária para criticar, dignamente, legitimamente ( e não só legalmente) a prestação do seu/nosso primeiro ministro?



Sem comentários:

Enviar um comentário