sábado, 29 de dezembro de 2012

FISCAL CLIFF

“Come together” é uma campanha lançada nos EUA a que a Starbucks decidiu aderir. O presidente-executivo da cadeia de cafés, Howard Schultz, pediu aos seus funcionários na área metropolitana de Washington DC que durante esta semana escrevam nos copos em que servem as bebidas as duas palavras “come together” (juntem-se).
A campanha, na sua mensagem mais extensa, apela a que “vamos dizer ao Congresso para trabalhar em conjunto para resolver a questão da dívida e evitar o precipício orçamental”. A plataforma Patch Network difunde a campanha. Outra campanha de pressão é levada a cabo pela CNBC sob a bandeira de “Rise Above”. Schultz chamou à sua iniciativa “um pequeno gesto”, que foi criticada por alguns analistas como “vedetismo”.
A campanha em toda a área metropolitana onde ficam a Casa Branca e o Congresso dos EUA ocorre na semana em que o “precipício orçamental” (fiscal cliff, em inglês) está a poucos dias de poder ocorrer, automaticamente, a partir de 1 de janeiro de 2013. Ele envolve 600 mil milhões de dólares (€453 mil milhões) em cortes da despesa pública federal (incluindo a área da defesa) e em aumentos de impostos.
O termo foi popularizado pelo presidente da Reserva Federal (banco central), Ben Bernanke, em fevereiro, numa audição junto do Comité de Serviços Financeiros da Câmara de Representantes, alertando para “um precipício orçamental massivo de grandes cortes da despesa e aumentos de impostos” a 1 de janeiro de 2013.
Recorde-se que o problema surgiu em virtude de, em agosto de 2011, aquando da crise sobre o aumento do teto de endividamento (que havia sido ultrapassado em maio e que, com medidas extraordinárias Tim Geithner estendeu até 2 de agosto), o Congresso decidiu criar um comité bi-partidário para encontrar uma estratégia para definir um teto para o endividamento federal num horizonte de dez anos implicando uma poupança no gasto federal de 1,2 biliões de dólares. Se o comité não chegasse a acordo até 31 de dezembro de 2012, um conjunto de cortes de gastos e de aumentos de impostos seriam desencadeados automaticamente. Esta decisão de dar mais de um ano para se chegar a um acordo entre os dois partidos foi uma das formas de obter o consenso em agosto de 2011 e evitar um incumprimento parcial ou seletivo pelo Tesouro norte-americano.
Os EUA mergulharam, mais tarde, em pré-campanha e campanha eleitoral de que só saíram nas eleições de 6 de novembro e o assunto foi adiado sucessivamente. Obama foi reeleito, mas as maiorias contraditórias no Senado (dominado pelos Democratas) e na Câmara de Representantes (dominada pelos Republicanos) permanecem, o que dificulta um entendimento.
Rondas de negociações até ao limite
O presidente Obama regressou de férias no Havai e vai reunir hoje (28 de dezembro) pelas 20h (hora de Portugal) na Casa Branca com os líderes das maiorias e minorias do Congresso (Senado e Câmara dos Representantes), a que estará presente, também, o vice-presidente Biden. Por seu lado, a Câmara dos Representantes reabre em sessão no domingo, a partir das 23h30 (hora de Portugal), até 2 de janeiro para discutir um acordo que evite o “precipício fiscal”. A 2 de janeiro termina a atual legislatura e no dia seguinte inicia-se o 113º Congresso.
A situação complicou-se ainda mais com o anúncio, esta semana, pelo secretário do Tesouro, Tim Geithner, que o teto de endividamento federal autorizado, de 16,4 biliões de dólares (cerca de €12,4 biliões) será ultrapassado no último dia do ano. Geithner garantiu que o Tesouro tomará todas as medidas extraordinárias permitidas por lei para evitar que o governo federal entre em incumprimento seletivo ou parcial em janeiro de 2013. Essa margem de manobra de que o secretário do Tesouro dispõe não deverá ultrapassar os 200 mil milhões de dólares, o que aguentará a situação “aproximadamente mais dois meses”. Geithner não será reconduzido na próxima Administração depois de Obama tomar posse a 21 de janeiro.
O folhetim ocorrido em julho e agosto de 2011 poderá repetir-se agora com a agravante de se conjugarem em cima da mesa dois problemas críticos – o “precipício orçamental” e a necessária autorização de aumento do teto de endividamento federal. No ano passado, a Câmara de Representantes e o Senado, a 1 e 2 de agosto, acabaram por aprovar o aumento do teto de endividamento que foi promulgado por Obama no dia limite. A 11 de agosto, a agência de notação Standard & Poor’s cortou o rating dos EUA, retirando-lhe o triplo A (o máximo), e baixando-o para AA+, o nível imediatamente abaixo. Foi a primeira vez que isso aconteceu na história dos EUA. As outras duas agências – Moody’s e Fitch – mantêm a classificação máxima, mas colocaram a sua apreciação da economia em “perspetiva negativa” (ou seja, admite-se a possibilidade de corte da notação).

Sem comentários:

Enviar um comentário