Por JNR na secção Ciberardina na crise (do default) , Gestão do risco , Inteligência Económica , crise.
Portugal voltou a entrar no clube dos de maior risco de incumprimento da dívida com um disparo de mais de 19% no aumento da sua probabilidade de default (incumprimento de dívida soberana) a cinco anos em apenas uma semana. O país ultrapassou nesse campeonato a Irlanda, que viu a sua notação de crédito ser revista em baixa e com perspetiva negativa.
O grupo de países designados pejorativamente por PIIGS (acrónimo humorístico para Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha) viu as probabilidades de incumprimento da dívida soberana dos seus membros num horizonte de cinco anos aumentar significativamente esta semana, de acordo com o monitor da CMA DataVision.
O campeão dos aumentos foi Portugal com 19% de crescimento da probabilidade de default (PD) a cinco anos, logo seguido da Irlanda com 13,5%. Fora do grupo, a Hungria, que também está “intervencionada” pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) tal como a Grécia, viu a sua PD crescer 14%.
Em virtude da aceleração do aumento da PD relativa à dívida soberana portuguesa, o país re-entrou, esta semana, para o TOP 10 mundial de maior risco, de onde havia saído a 29 de junho, e ultrapassou inclusive a Irlanda, situando-se, agora, no 8º lugar, abaixo do Dubai e acima do “tigre celta”.
O risco português neste âmbito da dívida soberana está, ainda, longe do máximo histórico alcançado aquando da crise de 6 de maio (com 32,63%) da zona euro, mas já ultrapassa os 25%. No início da semana estava nos 21,4% e, em 23 de julho, aquando da divulgação dos resultados dos testes de stresse à banca europeia, situava-se nos 20,8%.
Trio no foco dos especuladores
O processo de aumento da PD dos cinco PIIGS tem-se mostrado sincronizado, ainda, que em patamares diferentes e com taxas de crescimento diferenciadas. Há um trio que viu crescer, esta semana, o seu risco mais do que os outros – Portugal, Irlanda e Itália.
O foco de atenção dos especuladores dos mercados financeiros ligados à dívida soberana esteve virado para este eixo, fruto da continuação da gravíssima crise bancária na Irlanda e da instabilidade política crescente em Lisboa e em Roma.
A situação irlandesa, levou a que, esta semana, a agência de rating Standard & Poor’s baixasse a notação da Irlanda de AA para AA-, a mais baixa desde 1995, e com um Outlook negativo, um sinal que coincidiu com uma derrocada bolsista de quase 6% em Dublin no dia do anúncio dessa baixa de notação.
A agência tocou no ponto fraco irlandês: o problema do peso do “lixo tóxico” no seu sistema bancário, um fardo que pesa dramaticamente sobre o orçamento irlandês (que este ano ainda será de 12,5% do PIB) e sobre a subida galopante do endividamento público (passará de 25% do PIB em 2007 para 87,3% no final de 2010), apesar dos “fundamentais” do ex-tigre celta serem considerados saudáveis (por exemplo, perspetiva de crescimento de 3% em 2011, capacidade exportadora de alto valor acrescentado e excedentes na balança de pagamentos), como nos referiu o economista e analista Marc Coleman, de Dublin.
A recapitalização do sistema bancário irlandês poderá custar 50 mil milhões de euros, quase 1/3 do PIB, segundo aquela agência de notação de crédito. Em setembro, 30 mil milhões de euros de títulos de dívida dos bancos garantidos pelo governo terão de ser refinanciados, substituindo a dívida antiga por nova (situação de roll over, no tecnicalês financeiro), segundo a Nomura International. “Uma muralha que chega à maturidade”, clamam alguns mais pessimistas.
Grécia bate máximo histórico
No entanto, desde a divulgação dos testes de stresse a 23 de julho, o maior agravamento ocorreu com a Grécia que consolidou o seu lugar de 2º país de maior risco de incumprimento no mundo. Atualmente, inclusive, o seu PD (53,57%) é superior ao anterior máximo histórico (52,71%) atingido na crise da zona euro de 6 de Maio.
Apesar da intervenção do FMI e do chapéu protetor de Bruxelas, a desconfiança sobre a Grécia agravou-se e os especuladores no mercado dos credit default swaps (cds, no acrónimo técnico, uma espécie de derivados para segurar o risco de incumprimento da dívida) continuam a apostar que Atenas acabará por declarar default ou re-estruturar a sua dívida num horizonte de cinco anos, mesmo que isso seja negado politicamente.
No quadro do sistema bancário europeu, a Markit, outra empresa de informação sobre estes mercados financeiros ligados à dívida soberana e privada, chamou, esta semana, a atenção para quatro bancos europeus, dois portugueses, um espanhol e um italiano, que mais viram o custo dos seus cds subirem nos últimos 28 dias: BBVA (36% de agravamento), Monte dei Paschi di Siena (32%) e, com menores aumentos, o BES (com o custo atual dos cds mais elevado do que os outros três – 411 pontos base, mais do que o próprio custo dos cds da dívida soberana portuguesa que estão nos 346 pontos base) e o BCP.
Condições de crédito agravam-se
As condições de crédito de dois dos PIIGS – a Grécia e a Irlanda – agravaram-se mais acentuadamente, esta semana.
O “tigre celta” viu, esta semana, as yields (remunerações) das suas obrigações a 10 anos aumentar 7% e Atenas 5%, que bateu, de novo, recordes. As yields das obrigações gregas ultrapassaram os 12% no caso das maturidades a 5 anos e quase 11,5% nas maturidades a 10 anos, em média mais de 1 ponto percentual acima das condições em 23 de julho.
A Irlanda vê-se obrigada a remunerar as suas obrigações a 10 anos nos 5,72% (acima das yields a 23 de julho, aquando da divulgação dos testes de stresse) e Portugal nos 5,49% (ainda abaixo das yields a 23 de julho).
NOTA de C.S.P.: como se percebe quando atentamos que todos os países do mediterrâneo europeu (incluindo a França ) estão sob ataque especulativo simultâneo, independentemente de os próprios especuladores acharem que têm ( como a Irlanda ) boas condições estruturais para a retoma, bem como a permanência de " lixo tóxico" na banca ( não é só na Irlanda , o problema é geral ) porque os ´principais bancos estão expostos por débitos cruzados, e as dívidas soberanas também, independentemente da retoma alemã ( que vai ser curta segundo o presidente do FED e do BCE ), o que devemos aguardar é uma intervenção do FMI à moda romena, búlgara , estóniana, grega ou ucraniana ou húngara. Sendo que nenhum destes países depois da entrada do FMI deixou de estar sob ataque o qual até piorou para todos.
O que isto quer dizer é que os
especuladores bolsista - que são todos os que investem na bolsa com outras finalidades que não seja a de receberem dividendos nas acções, de empresas certas ao longo dos anos , mas como os fundos compram e vendem diariamente na ansia de viverem de lucros dessa especulação artificialmente produzida, não aprenderam nada desde há três anos:
1- Esta crise financeira e económica está a gnhar contornos de contestação universal e já está a levar inexoravelmente a mudanças muito profundas nos valores morais com que encaramos a vida ( e esqueçam a ética porque a usura destruiu-a ).
2- Esses valores vão ressuscitar comportamentos geopolíticos de protecionismo nacionais ou zonais.
3- Esse proteccionismo vai rebentar com os compromisos que nos têm trazido paz e vão modificar profundamente o modo como encaramos aquilo a que hoje chamamos democracia. Vai ser feio de se vêr.
4- E que estamoss em fase de "estado nascente " de algo - o qual como se sabe, é sempre acompanhado de paradoxos, contradições e ambiguidades devidos a estar-se num momento em que os valores antigos são questionados ,mas os novos ainda não estão completamente desenhados, no Eurobarómetro que deve ser publicado lá para quarta ou quinta-feira, vem preto no branco que - pela primeira vez desde que há os 27- só quarenta e nove% dos europeus são não-eurocépticos, contra 51% eurocépticos.
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