quarta-feira, 18 de agosto de 2010

AS FÉRIAS A QUEM AS MEREÇAM

1- a história das "férias" remonta aos romanos.
No período romano feria era o singular do vocábulo feriae que deseignava os dias de não trabalho mas também de descanso em honra dos deuses pagãos; ou os dias que se seguiam ao regresso das legiões após as conquistas e festejavam ( "pão e circo, lembram-se ? ) as novas vitórias militares.
No sec. IV, através do édito de Milão , o imperador constantino aceitou o cristianismo, acabou com a perseguição aos cristãos e tornou o cristianismo a religião oficial.
Até então, os romanos respeitavam os deuses alheios  tendo da Grécia trazido o costume de lhes edificarem templos.
Daqui surgiu o vocábulo Panteão derivado do latim pantheum, que por sua vez era adaptado do grego Panthéion - ou seja, o templo de todos os deuses.
Nos panthéion passaram a ser sepultados todos os nossos heróis. É que para os romanos era muito ténue a zona raiana entre divindade e qualquer pessoa merecedora ou celebrada por seus actos, por exemplo os nossos familiares. E , por isso era comum no projecto do culto dos mortos que estes fossem enterrados próximos de casa e aí venerados. Quando por seus feitos ultrapassavam a família e alcançavam a Polis ( o interesse da Coisa Pública e da Cidade ) os cidadãos eram enterrados num Panteão nacional ( em Portugal é na Basílica da Estrela , nos Jerónimos e na Batalha que estão os nossos maiores panteões ) - panteões de todos os deuses.
Se os romanos fossem ricos e dispusessem duma villae era aí  que sepultavam os seus mortos e os veneravam, num local calmo perto do LAR.
LAR era o deus das casas dos romanos, o seu deus protector - uma espécie de santo padroeiro , como agora se diria - da casa e dos caseiros, os que lá moravam. Isto, exactamente porque não distinguiam deuses comuns de deuses domésticos, ou seja muitos ancestrais eram alvo duma quase adoração na DOMUS.
LAR era o deus das domus e daí vem a nossa noção do lar doméstico, e porque os romanos não distinguiam, como disse, a qualidade dos deuses e deificavam certos familiares, havia dias " de férias " dedicados ao culto dos mortos, coisa que foi uma novidade histórica já que nas sociedades agrárias embora houvesse um forte culto dos mortos ( como se pode ver em Foz Côa ) nunca houve férias.

2 - Na verdade o vocábulo férias vem de de festus ou fastus, sendo que festus vem a dar no português festas , e fastus vem a dar no português nefastos ; assim um dia para festejar ( e.g. a memória de um familiar ) é um dia de festa ...ou um feriado, enquanto um dia mau, um dia que remete para uma derrota militar importante ou uma desgraça familiar é um dia nefasto....

E assim se foi mantendo ao longo dos séculos a noção de festa como celebração de algo bem feito, esforçadamente feito - como uma vitória militar ou uma vida de trabalho para a família - até que surgiu a revolução industrial.
Com a revolução industrial veio um conjunto de novidades já que uma tão grande novidade como era esta coisa de tão poucos produzirem tanto, de os utensílios produzidos mudarem todos os dias e passarem a não ser de utilidade obrigatória mas poderem ser somente de lazer, da acumulação doentia de dinheiro por parte do proprietário industrial o afastar da simples visão dos operárioa que passaram de trabalhadores da " família" ( como na Idadde Média ) a proletários ( na terminologia de Marx o qual os definia como trabalhadores que recebiam o estritamente necessário para a sobrevivência lhes permitir continuarem a produzir ) sem que o patrão visse a miséria, de um afastamento real dos locais onde viviam ricos e pobres, com o nascimento de guetos sociais, etc.
E dentro deste conjunto de novidades que a revolução industrial impôs veio , para além do café e do alcool tomados alternadamente para permitir o aumento contínuo da producção, veio, dizia uma esperteza dos industriais tão grande como a de inventar a jorna, sempre dada no limite da subsitência para que a produção prosseguisse: as férias!

É assim que, embora requeridas pelos operários, são. de facto, os patrões mais inteligentes que abrem as portas a esta proposta dos seus trabalhadores : primeiro uns dias sem subsídio, depois dias com ordenado e subsídio , já que um trabalhador somente alimentado emborrachado ou encafezado não produzia tanto como um que para além disso pudesse usar tempo para descansar e resolver problemas pessoais, com a família ou o Estado cada vez mais burocrático.
Assim as férias nasceram do reconhecimento da necessidade de repousar ao fim dum ano de trabalho e da necessidade de restaurar forças para um novo ano!

Daqui resultam duas consequências lógicas:
A primeira é que só merece férias, só tem o direito ético ( moral pode sempre haver ou não ) às férias quem, de facto, trabalhou e se esforçou. E não simplesmente quem esteve empregado e se limitou a cumprir horários; ou quem se baldou; ou quem "esteve pelo desemprego".
A segunda é que quem não utiliza as férias para o fim para que lhes são concedidas - descansar e restaurar forças - e empreende férias de que regressa arrasado e mais cansado do que partiu, esse comete " um abuso de confiança" utilizando uma regalia ético-legal para fins diferentes daqueles para que lha concederam.

Há na psiquiatria uma escala chamada de "event-lifes" ou acontecimentos vitais que estima as situações de vida que obrigam o nosso organismo a maior resposta de stress. Ora, logo após o divórcio, a morte dum filho, a tropa, o casamento, vêm as férias! Ou seja, as pessoas organizam hoje as férias como se fosse um tempo em que se tem de viajar, viajar para longe, viajar para longe com risco conhecido e desconhecido, com tempos marcados para tudo, com um decreto interior e comum a toda a familia ( e que se presume ser do conhecimento e da aceitação de toda a família, mas não é de facto ) de que tudo tem de correr segundo os conformes, com regras que todos julgam conhecer mas são factualmente muito diversas entre os membros da família, e neste cadinho de contradições exigem  ter as cognições ( pensamentos ) certas que carreiam os melhores humores ( do tipo " hoje o dia correu tão bem , por isso devíamos estar todos bem, mas os meninos estão mais impertinentes que em casa, mas tu Zé , ou tu  Maria, não sei que querem mais que ninguém os atura!...." ).
Mais de 70% dos portugueses têm altos índices de stress de férias, sabiam, seus execráveis meus dois leitores e meio?

E...depois , DELENDA  CHINA  EST !!!!

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