segunda-feira, 24 de maio de 2010

A DIGNIDADE AO CONTRÁRIO e o contrário da dignidade!

Tenho o mau hábito de ser um provocador.
Quando alguém começa a pôr-me a ferver com "direitos adquiridos", " os meus direitos" ou..".a minha dignidade" raramente resisto a uma provocaçãosita que às vezes roça a má educação e quase sempre a arrogância. Disso já me penitenciei dezenas de vezes mas o pecado dá mostras de querer morrer comigo.

Quando alguém me aborrece a sério com qualquer daqueles argumentos não resisto a pergurtar: -"Então o que está em causa é a sua dignidade!, É, não é?". A resposta é sempre sim, até porque este vocábulo DIGNIDADE,  há muito tempo que anda inflacionado e parece que cabe lá tudo.

Então neste meu mau "climatério", quando estou nele, pergunto sempre: -"Mas diga-me uma coisa, o que é que entende por dignidade?". Aqui cai o Carmo e a Trindade porque ninguém sabe definir o termo.

Acontece que hoje o Jornal de Notícias trazia a nova de que um grande produtor de morango , nesta época de colheita do fruto, precisava de juntar aos seus dez empregados fixos mais umas dezenas de trabalhadores sazonais: paga quinhentos e vinte euros,  alimentação e dormida, pelo menos, podendo os trabalhadores ganhar mais horas extraordinárias ou fins-de-semana. Este ano, dos cem que pediu ao Centro de Emprego, só um desempregado aceitou, fazendo-se todos os outros acompanhar do...conveniente atestado médico de recusa.

Até que  - como já no ano transacto  tinha acontecido o mesmo - o agricultor desatou a contratar trabalhadores tailandeses que até trabalham mais e melhor. Consequência: os "seus " trabalhadores passaram a trabalhar mais e a apresentar menos atestados médicos!

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Aqui há uns doze anos, os meus filhos estavam licenciados ( cinco anos ) em psicologia. Eu explicava que a crise ( a  do Guterres, da Manuela e do Durão Barroso mais o discurso da tanga que era verdadeiro ) viera para ficar; um dia o meu filho Pedro, o mais velho, disse-me que jamais aceitaria um emprego de psicólogo por menos de trezentos contos à época. Eu sorri porque um pai só pode sorrir perante uma coisa destas, até porque é consabido que santos da casa não fazem milagres, sobretudo quando a mãe tem um discurso implícito que suporta tais pensamentos que, não sendo racionais, são compreesivelmente desiderativos.
Não sei como vai a vida dos meus filhos hoje. Nem sei se exercem psicologia. Sei que um deles tem um filho de um ano e meio que é meu neto e não o posso vêr. Sei que os avós não têm qualquer direito sobre os netos. Sei que isso é uma aberração do tamanho da aberração jurídica que é - numa sociedade em que os direitos individuais deviam ser acautelados - não podermos deixar o nosso dinheiro, o dinheiro que com o nosso esforço ganhamos  a quem nós entendermos  porque os filhos têm direitos jurídicos!
Continuo a telefonar nos dias de anos e nos Natais aos meus filhos, sem resposta, mas não posso fazer o mesmo ao meu neto!

E qual é a importância disto?
É enorme: toda a experiência de vida e toda a inteligência que acumulei não vou poder deixá-la ao meu neto - até porque pela natural dinâmica do ódio não seeri lembrado pelos pais ao meu neto; mas mesmo que o seja ele nunca vai poder usufruir do conhecimento do avô e muito menos da sua enorme experiência de vida.

Pois bem.
Aquilo que andei a pregar aos meus filhos e que a mãe ( como é costume em situação de litígio educativo ) contrariou, não lhes chegou, e aos filhos deles  muito menos. É assim a nossa Lei.
Aquilo que a mãe dizia é que eu era um pessimista. Pois bem, para pessimista não está mal que tenha sido ultrapassado por detrás de mim pela desgraça pública. A crise veio para ficar pelo menos uma geração, e o meu neto não vai ouvir-me dizer-lhe como passar por ela com menos sofrimento. É esta a Lei.
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Não gosto nem nunca gostei de vêr gente escravizada, mas também não gosto de vêr gente tonta a tentar imitar a avestruz ( que eles julgam que mete a cabeça na areia mas nem isso faz). Gosto de gente.
E gente é um ser que pensa e pensa mesmo que isso incomode. Mesmo que o mensageiro incomode, aprenda que é sempre melhor ouvir o mensageiro que matá-lo sem ele acabar de transmitir a mensagem ( mesmo que matar seja só ostracizar o mensageiro ).

Por isso,é muito importante  poder dizer ao meu neto que por entre as cunhas ( à boa maneira portuesa ) que o avô meteu a favor dos pais, uma, a da multinacional portuguesa Habitat, era tão forte  que para ela os meus filhos  entrariam- como lhes foi explicado - para acompanharem os clientes de móveis com a farda de avental da casa durante uns tempos para mais tarde poderem passar aos recursos humanos a exercerem psicologia (mesmo que a não ganhar 300 contos ).E que  era tão boa que a sua rejeição não poderia ser repetida - como foi por parte dos meus filhos. Os filhos dos filhos não podem cometer os erros de palmatória dos pais, mas só os avós estão em condições de lhes explicar isso mesmo. 

E explicar que o trabalho dignifica e o desemprego Não!
E explicar que enquanto um desempregado tiver mais vergonha de apanhar morangos que de receber o subsídio de desemprego, não vai encontar-se com a dignidade mas , simplesmente, com o contrário da dignidade 
Não com a dignidade ao contrário  mas sim com o contrário da dignidade. Aquilo a que chamamos indignidade.

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