segunda-feira, 10 de maio de 2010

CáRITAS IN VERITAS

A visita do Papa a Portugal que amanhã começa motivou uma pergunta duma amiga que não gosta deste Papa ( este não é o meu Papa, dizia ) e que me pediu, quando eu lhe disse que este homem é um intelectual que por muitos é considetrado um reformatador da moral de hoje como o seu conterrâneo Kant o foi no seu tempo histórico com a noção do Dever, pergunta assim : e então o que é que hei-de ler dos vinte e tantos livros dele desde poesia, à  filosofia até  à teologia?. Pois bem minha amiga, começa com a sua primeira encíclica " Caridade na Verdade ", encíclica que retoma as teses centrais da "Rerum Novarum" que iniciou a doutrina social da Igreja - e que está à venda numa paróquia perto de si, como no cinema .Aí vais encontrar a ideia de que entre totalitarismos ( designadamente comunistas ) e o capitalismo, há uma terceira via.
Mas ainda mais importante que isto é o pedido que lá se faz para um governo mundial, coisa por que me bato há mais de vinte anos como condição para a Paz.
Outro livro que aconselho é o seu primeiro publicado " Introdução ao Cristianismo ".Boas leituras!

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Na verdade é minha opinião de que este Papa é mesmo o meu Papa. E é-o por tudo aquilo de que o criticam, curiosamente, os ateus como se aos Papas competisse o dever de agradar aos ateus...
Bento XVI é acusado de ser frio e racional quando é um defensor acérrimo da convergência entre Razão e Fé.
É acusado de ser contra a modernidade científica , mas é o que mais fomenta encontros favoráveis ao evolucionismo em detrimento do criacionismo.
É acusado de não entender o seu tempo europeu ( os outros Continentes são muito diferentes ) mas não cala a denúncia ao declínio demográfico.
É acusado de anti-ecumenismo mas é Ele que mais tem tentado relançar pontes com ortodoxos ,protestantes e judeus e islamitas.
É acusado de retrógado em matérias sociais e económicas mas é aquele que em encíclicas ataca o capitalismo e a banca na crise financeira.
É acusado de ser a origem e raíz da pedofilia na Igreja quando foi o único a "convidar" padres e bispos a demitirem-se por causa disso ( a este respeito voltarei).
É acusado de não abrir as portas da Igreja às mulheres mas foi o único a aceitar padres casados ingleses que se afastaram da Igreja Anglicana e foram ( casados ) acolhidos pelo catolicismo como padres.
É acusado de dogmatismo porque não aceita o relativismo e o positivismo morais, e é aqui que Ele me conquista definitivamente.

Na verdade eu, como psiquiatra, estou na origem duma nova escola psicoterapêutica: o "metacognitivismo narrativo". A base filosófica desta (minha) psicoterapia, e para simplificar as coisas, partia do princípio de que  a verdade não existe, nos podemos permanentemente reinventar, porque tudo seria relativo.
Talvez por sorte minha, dos cinco "criadores, um italiano outro françês e dois americanos desta nova psicoterapia que nos parecia tão atraente, dos cinco iniciais (comigo) três já se suicidaram - a meu vêr porque levaram mesmo à letra nas suas vidas o relativismo de comportamentos e ausência de valores que "pregavamos". Talvez devido ao meu maior cepticismo sobre absolutismos empíricos, ainda estou vivo. Ora o que Bento XVI prega é um back to basics, ou seja um regresso contra-corrente a valores seguros na vida social - como Kant, o outro alemão fez e disse, com as vantagens civilizacionais de que nestes "posts" já falei.
Este Papa não fala o senso-comum mas o bom senso; não é capaz de ser simpático na sua sisudez, mas é empático com as causas dos sofrimentos da humanidade actual.

Na realidade, Bento XVI não se conforma com a progressiva marginalização da Fé nas sociedades ocidentais, daí que ele sonde continuamente as condições de continuidade da Fé que arrasta comportamentos sintónicos com as necessidades da humanidade actual, mas não vai a reboque das ideis feitas, da moda, que como em todas as modas nunca é alvo de uma verdadeira análise sobre a sua validade.

Os motivos para pensarmos que a Fé é mais que nunca necessária está nisto: entramos numa livraria e deparamos com os escaparates cheios de livros sobre " como encontrar a felicidade ou a alegria de viver ", " as vinte e cinco maneiras de ter amigos e quebrar a solidão", " técnicas para combater o stress ", " cinquenta maneiras de alcançar a meditação transcendental", " o Yoga para a estabilidade da sua vida ",etc. Tudo formas "religiosas"- com as suas liturgias, as acentalhas indianas de cheiros  substituindo o inçenso, os seus ambientes silenciosos a parecer místicos, os seus dogmas ( "só dá resultado assim e não assado.."), etc. Pseudo religiões onde a Fé foi substituída pela fezada de que "isto" resulta! Rituais  fúteis onde os sentimentos deram lugar aos sentidos  e as técnicas substituiram a razão....

Curiosamente logo após ser eleito Papa, Bento XVI definiu a sua missão como bispo de Roma explicando que bispo (êpiskopos ) tem como significado imediato ser sentinela. E nós sabemos que uma sentinela tem como função sondar o horizonte, detectar os perigos e gritá-los para acordar os que descansam ou dormem. Está tudo dito.

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