Reino Unido
Petróleo, vento e uísque são as joias da Escócia
29 março 2012
The Observer Londres O parque eólico Whitelee, o segundo maior da Europa, em Eaglesham, Escócia.
Com a Escócia a preparar-se para votar a independência em 2014, a sua futura propriedade dos campos de petróleo do Mar do Norte do Reino Unido pode transformá-la numa das nações mais ricas do mundo. Excertos.
"O petróleo é da Escócia" – eis algumas das palavras de ordem mais ouvidas na boca dos políticos escoceses. Usada pela primeira vez pelo Partido Nacional Escocês (SNP), em 1974, a noção de que a Escócia é "dona" de cerca de 90% das reservas do Mar do Norte continua a ser uma das mais fortes razões de queixa dos nacionalistas. E nos próximos dois anos, com Alex Salmond a liderar o território com vista a um referendo sobre a independência, é provável que se torne um dos argumentos centrais para os nacionalistas, que acreditam que ajudará a decidir o destino do Reino Unido.
Desde que se tornou claro que os campos de petróleo do Mar do Norte iriam gerar imensas fortunas, o SNP tem insistido em que essa riqueza tem sido desperdiçada pelos sucessivos governos de Westminster. Alegam que a Noruega, um país com uma população semelhante à Escócia, com pouco menos de cinco milhões de habitantes, poupou grande parte dos rendimentos do petróleo: a receita excedente entra para o fundo de pensões do Governo, que é hoje o maior proprietário europeu de ações, com cerca de 3,3 biliões de coroas (434 mil milhões de euros).
O SNP argumenta que, seguindo o paralelo que passa a leste do ponto em que a fronteira entre a Escócia e a Inglaterra tocam na costa, a norte de Berwick, a divisão do fundo do mar dará à Escócia o controlo sobre quase todo o petróleo e campos de gás natural do Mar do Norte.
O Governo escocês, que está a elaborar um processo muito documentado para apoiar a exigência de 90% da propriedade, enquanto os seus funcionários públicos se preparam para o referendo, afirma que o Mar do Norte vai gerar receitas de cerca de 54 mil milhões de libras [64 mil milhões de euros] nos próximos cinco anos, com uma "base de ativos" avaliada em aproximadamente um bilião de libras [1,19 biliões de euros], incluindo as reservas remanescentes.
Salmond afirma que a energia fornecida pelos fortes ventos vindos do mar e pela força das ondas, combinada com outras indústrias, como a produção de uísque, faria com que a Escócia passasse a ser a sexta nação mais rica da OCDE, remetendo o resto do Reino Unido para um modesto 15º lugar.
Mas Salmond terá que responder a preocupações sobre se a Escócia será capaz de proporcionar à economia a mesma força internacional e o regime regulatório e impostos relativamente estáveis que o Reino Unido proporciona. Os especialistas acreditam que as companhias petrolíferas e as empresas de engenharia que dependem fortemente de contratos no Mar do Norte estão a ponderar os potenciais efeitos negativos da independência. Passariam a ter de esgrimir com dois regimes regulamentares e fiscais: o Reino Unido utiliza especialistas em saúde e organismos ambientais e de segurança, em grande parte controlados a partir de Whitehall. A Escócia teria que criar os seus próprios sistemas a partir do zero.
Seria uma Escócia independente, teoricamente um dos mais pequenos Estados-membros da UE, capaz de igualar a influência política do Reino Unido e de disputar o poder em Bruxelas ou no palco global?
E coloca-se também o problema da exploração de petróleo a longo prazo e das licenças de perfuração emitidas pelo Governo britânico a empresas petrolíferas: muitas prolongam-se por 30 anos. Como seria feita a transferência?
Pense-se ainda como iria a Escócia defender as plataformas no Mar do Norte: poderia um governo de Edimburgo dar-se ao luxo de manter uma Marinha capaz de resolver um incidente terrorista?
Por outro lado, a indústria petrolífera poderá considerar que um governo da Escócia seria mais favorável em matéria de tributação: a riqueza do petróleo do Mar do Norte tem um significado muito maior para a economia escocesa do que para a do Reino Unido. Embora os valores flutuem de ano para ano, o petróleo e o gás natural geram cerca de 2% do PIB e do montante fiscal do Reino Unido, enquanto o relatório económico anual do governo escocês estima que seriam responsáveis por 12% das receitas globais da Escócia.
Salmond traçou uma meta de fornecimento de 100% da procura de eletricidade da Escócia através de energias renováveis até 2020, mantendo em funcionamento como apoio de retaguarda duas centrais nucleares e centrais a carvão, já existentes. Mas o ministro da Energia britânico, Charles Hendry, alerta para possíveis problemas: se a Escócia for independente em 2014, não vai contar com subsídios do Reino Unido para desenvolver as energias renováveis; terá que pagar as infraestruturas de rede, para exportar e importar energia; e simultaneamente, terá de competir com os fornecedores franceses, irlandeses e noruegueses.
Um porta-voz de John Swinney, secretário escocês das Finanças, declarou: "A Escócia tem um bilião de libras [1,19 biliões de euros] na base de ativos do Mar do Norte – numa altura em que a dívida nacional do Reino Unido atingiu um bilião de libras [1,19 biliões de euros] pela primeira vez –, com cerca de 40% em reservas remanescentes e mais de metade do valor ainda por extrair. Com o preço do petróleo previsivelmente a aumentar para mais de 200 dólares [150 euros] o barril, constata-se a necessidade absoluta de a Escócia assumir o controlo dos seus recursos através da independência, para benefício do país a longo prazo."
Desde que se tornou claro que os campos de petróleo do Mar do Norte iriam gerar imensas fortunas, o SNP tem insistido em que essa riqueza tem sido desperdiçada pelos sucessivos governos de Westminster. Alegam que a Noruega, um país com uma população semelhante à Escócia, com pouco menos de cinco milhões de habitantes, poupou grande parte dos rendimentos do petróleo: a receita excedente entra para o fundo de pensões do Governo, que é hoje o maior proprietário europeu de ações, com cerca de 3,3 biliões de coroas (434 mil milhões de euros).
O SNP argumenta que, seguindo o paralelo que passa a leste do ponto em que a fronteira entre a Escócia e a Inglaterra tocam na costa, a norte de Berwick, a divisão do fundo do mar dará à Escócia o controlo sobre quase todo o petróleo e campos de gás natural do Mar do Norte.
O Governo escocês, que está a elaborar um processo muito documentado para apoiar a exigência de 90% da propriedade, enquanto os seus funcionários públicos se preparam para o referendo, afirma que o Mar do Norte vai gerar receitas de cerca de 54 mil milhões de libras [64 mil milhões de euros] nos próximos cinco anos, com uma "base de ativos" avaliada em aproximadamente um bilião de libras [1,19 biliões de euros], incluindo as reservas remanescentes.
Salmond afirma que a energia fornecida pelos fortes ventos vindos do mar e pela força das ondas, combinada com outras indústrias, como a produção de uísque, faria com que a Escócia passasse a ser a sexta nação mais rica da OCDE, remetendo o resto do Reino Unido para um modesto 15º lugar.
Mas Salmond terá que responder a preocupações sobre se a Escócia será capaz de proporcionar à economia a mesma força internacional e o regime regulatório e impostos relativamente estáveis que o Reino Unido proporciona. Os especialistas acreditam que as companhias petrolíferas e as empresas de engenharia que dependem fortemente de contratos no Mar do Norte estão a ponderar os potenciais efeitos negativos da independência. Passariam a ter de esgrimir com dois regimes regulamentares e fiscais: o Reino Unido utiliza especialistas em saúde e organismos ambientais e de segurança, em grande parte controlados a partir de Whitehall. A Escócia teria que criar os seus próprios sistemas a partir do zero.
Seria uma Escócia independente, teoricamente um dos mais pequenos Estados-membros da UE, capaz de igualar a influência política do Reino Unido e de disputar o poder em Bruxelas ou no palco global?
E coloca-se também o problema da exploração de petróleo a longo prazo e das licenças de perfuração emitidas pelo Governo britânico a empresas petrolíferas: muitas prolongam-se por 30 anos. Como seria feita a transferência?
Pense-se ainda como iria a Escócia defender as plataformas no Mar do Norte: poderia um governo de Edimburgo dar-se ao luxo de manter uma Marinha capaz de resolver um incidente terrorista?
Por outro lado, a indústria petrolífera poderá considerar que um governo da Escócia seria mais favorável em matéria de tributação: a riqueza do petróleo do Mar do Norte tem um significado muito maior para a economia escocesa do que para a do Reino Unido. Embora os valores flutuem de ano para ano, o petróleo e o gás natural geram cerca de 2% do PIB e do montante fiscal do Reino Unido, enquanto o relatório económico anual do governo escocês estima que seriam responsáveis por 12% das receitas globais da Escócia.
Salmond traçou uma meta de fornecimento de 100% da procura de eletricidade da Escócia através de energias renováveis até 2020, mantendo em funcionamento como apoio de retaguarda duas centrais nucleares e centrais a carvão, já existentes. Mas o ministro da Energia britânico, Charles Hendry, alerta para possíveis problemas: se a Escócia for independente em 2014, não vai contar com subsídios do Reino Unido para desenvolver as energias renováveis; terá que pagar as infraestruturas de rede, para exportar e importar energia; e simultaneamente, terá de competir com os fornecedores franceses, irlandeses e noruegueses.
Um porta-voz de John Swinney, secretário escocês das Finanças, declarou: "A Escócia tem um bilião de libras [1,19 biliões de euros] na base de ativos do Mar do Norte – numa altura em que a dívida nacional do Reino Unido atingiu um bilião de libras [1,19 biliões de euros] pela primeira vez –, com cerca de 40% em reservas remanescentes e mais de metade do valor ainda por extrair. Com o preço do petróleo previsivelmente a aumentar para mais de 200 dólares [150 euros] o barril, constata-se a necessidade absoluta de a Escócia assumir o controlo dos seus recursos através da independência, para benefício do país a longo prazo."
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