quarta-feira, 28 de março de 2012

POIS É, MAS EOS OUTROS....VÃO DEIXAR?

Em 2025, a China deverá ultrapassar os Estados Unidos no Produto Interno Bruto (PIB) e depois de 2030 “o renminbi [a divisa chinesa, ou moeda do povo em chinês] deverá estar praticamente a par do dólar como divisa chave”, segundo a previsão de Chen Yulu, reitor da Universidade Renmin (Universidade Popular da China), num artigo publicado no “Diário do Povo” esta semana.
A estratégia recomendada pretende que o “grau de internacionalização da divisa chinesa entre 2030 e 2040 chegue a 20%, o que assegurará, em duas ou três décadas, que o sistema monetário internacional deixe de ser dominado pelo dólar norte-americano para assumir uma estrutura envolvendo o dólar, o euro e o renminbi”, diz Chen Yulu.
A internacionalização da divisa chinesa não será só importante para a sustentabilidade da prosperidade económica interna, mas também “um veículo para o seu soft e hard power”, dimensões do poder a nível geopolítico, afirma Chen Yulu, que é da geração já nascida no final dos anos 1960, e especialista em Finanças.
Chen Yulu tem um doutoramento em Economia e foi professor Fullbright na Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, bem como professor visitante na Universidade de Tilburg, na Holanda. É o mais jovem reitor de uma universidade chinesa.
Três fases
Chen Yulu refere três “fases” na estratégia de internacionalização. A primeira fase já foi iniciada e consistiu em fomentar o uso da moeda chinesa no comércio internacional por parte das empresas em todas as regiões do país, e estão em curso vários protocolos bilaterais no sentido de haver pagamentos nas próprias divisas, de países em desenvolvimento ou emergentes, envolvidos em trocas comerciais com a China.
O dólar seria eliminado das transações. O Standard Bank sul-africano, o maior banco de África, afirmou num estudo recente que o uso do renminbi nas trocas comerciais terá particular sucesso naquele continente mais do que em qualquer outro lugar “pois, muitas das moedas locais são fracas e em certa medida muito localizadas”.
O comércio internacional denominado em divisa chinesa representou 9% do total de importações e exportações em 2011.
Simultaneamente, a China abriu um mercado de swaps nos câmbios (existindo já acordos com 14 países) e transformou Hong Kong num centro offshore da sua divisa em 2009 e está a alargar essa função a Singapura e Londres (por muitos já considerada a plataforma financeira da China para o Ocidente). Um país de África, a Nigéria, já integrou no ano passado o renminbi no seu sistema de reservas.
Estas medidas já levaram a que o grau de internacionalização da divisa chinesa saltasse de 0,02% em 2010 para 0,41% em 2011.
A segunda fase envolve o passo seguinte, a convertibilidade total do renminbi. Chen Yulu considera que serão necessários apenas quatro anos para a concluir, entre 2016 e 2020, contrastando com “o Japão que levou 16 anos, o Reino Unido que levou 18 anos e a Rússia que levou 20 anos”. Um dos problemas que esse passo acarretará será a apreciação da divisa chinesa e o seu impacto no facto da China ter uma posição específica nas cadeias de valor mundiais, adverte.
Os produtos ‘Made in China’ serão mais caros no comércio internacional (abrindo oportunidades a países em desenvolvimento exportadores com custos mais baixos), aumentarão os défices da China com parceiros na Ásia seus fornecedores, e diminuirão os créditos em relação aos países desenvolvidos clientes da China, com quem Pequim tem excedentes comerciais ano após ano.
Um estudo do Fundo Monetário Internacional (Working Paper No. 12/88: “Spillover Effects of Exchange Rates: A Study of the Renminbi”), publicado esta semana, estima que a apreciaçao de 30% do renminbi em relação ao dólar, ocorrida entre 2000 e 2008, deverá ter implicado um aumento de 4,5% a 6% das exportações para os EUA de países em desenvolvimento concorrentes da China.
Enfrentar esses percalços exige que a China “aprenda com a experiência dos Estados Unidos” no desenvolvimento de “um padrão baseado em três pilares – legal, tecnológico e financeiro”.
A terceira fase coincidirá com a consagração geoeconómica do país. “Se o crescimento da China ultrapassar o dos Estados Unidos numa média anual de cinco pontos percentuais e a apreciação do renminbi continuar a uma taxa anual de 2 a 3%, a China terá o maior PIB do mundo em 2025″, refere o reitor. Com essa fase virá a paridade com o dólar e o renminbi transformar-se-á numa divisa de reserva sobretudo para o mundo em desenvolvimento.

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