segunda-feira, 6 de setembro de 2010

O CASO DREYFUS


1- Em 1881 uma empregada de limpeza da embaixada alemã encontrou uma carta que aparentemente mostrava que o judeu françês Alfred Dreyfus era um traidor à frança na anterior guerra com a prússia. Preso, Dreyfus foi condenado a prisão perpétua na ilha do Diabo na Guiana Francesa. E metade da França diz que ele foi condenado porque era o judeu que estava mais à mão do bico da caneta do juíz. Entretanto acumulavam-se provas de que o capitão Dreyfus era inocente e teria sido outro oficial ,um major, o autor da traição.

2 -A França divide-se.Os jornais não falam doutra coisa.  A esquerda defende Dreyfus , a direita monárquica e de temperamento sanguíneo ( mesmo a dos san-colottes) a sua condenação. Mas as provas são refutadas uma a uma e os maiores intelectuais franceses e do mundo defendem novo julgamento. Emile Zola escreve no L'AURORE o famosíssimo texto J'ACCUSE !. Anatole Françe vai-lhe na peugada. Ninguém fala noutra coisa. Repete-se o julgamento e prova-se a sua inocência e a culpa do major. Dreyfus é libertado mas recusa pedir uma indeminização à França por patriotismo. Morre em 1935.

3 -A importância deste erro judicial  foi tremendo em França. Este país era o mais anti-sionista da Europa de então, e segundo muitos estudiosos, deve-se ao caso Dreyfus a mudança de atitude para com os judeus praticamente não perseguidos em França daí em diante - mesmo os Rostchild e companhia, os mais odiados. Deve-se aida a este caso a maioria solidária do povo françês para com os judeus durante a tirania nazi. É que a culpa pode ser como um purgante que limpa o que andava muito sujo.

4-Trago aqui à colação o caso Dreyfus, o maior erro judiciário de sempre, porque foi dele que me lembrei quando vi os vídeos que estão publicados na net por Carlos Cruz que me impressionaram realmente pela ambiguidade das descrições , das afirmações , das infirmações , bem como das contradições que lá são explícitas.

5 -Posto isto , rezo para que não tenhamos pela frente um erro judiciário - sobretudo depois de lêr o excelente post de Daniel Oliveira que pode ser consultado no semanário Expresso. Os comentários aí  publicados às dezenas sobre o seu texto e ele próprio , e só porque ele, como eu, tem dúvidas depois de ver o que eu vi , são de tal modo fanáticas e grosseiras e insultuosas e de mentes intelectualmente muito débeis e sugestionáveis, que imagino a frustração que nelas irá, se se vier a demonstrar que há inocentes entre os culpados. Imagino a frustração e a derivada revolta da  Pôva contra a Justiça. E um povo que não sente que há justiça, quando se revolta, é muito mais violento. Transforma-se na Pôva. O 25 de Abril mostrou-o. Nessa altura Portugal crescia há vinte anos a 5% ao ano, o Estado Novo tinha começado com Salazar a habitaçaõ social, os serviços médicos gratuitos e em sistema de rede, as Caixas dos serviços médico-sociais eram para todos, a segurança social universal ( com excepção dos comerciantes ) para aposentação, reforma por doença, subsídios de desemprego, abono de família etc, a inflação não existia...e mesmo assim e porque falhava clamorosamente a Justiça, a Pôva saíu à rua ! Que predizer agora em que é tudo o mesmo ....mas em constrição e  em restrição!

6 -Outra conclusão a que chego é que do modo como tudo se foi passando, o tempo que demorou  o processo a transitar, a habituação ao termo pedóflilo!, a sua relação directa, que a maioria dos portugueses faz e bem, com homossexualidade que agora é legal, quase moral e sobretudo um sinal de upgrade social que até já se utiliza  para dar lustro às festas, serve para esvaziar o peso do crime que a pedofilia é.
É que, como tem declarado, a jogar cada vez mais à defesa, o meu colega e amigo Álvaro de Carvalho, (psiquiatra das crianças da Casa Pia ) a pederastia é em 95% ( ele diz que não sabe porquê, mas eu julgo saber ) entre homens ( para ou homossexuais) , e crianças ou adolescentes ( principalmente estes ) masculinos ( como dizia há tempos o Núncio Apostólico no Chile para ex-comunhão geral dos ateus deste mundo e do outro ). E , como o hábito é inimigo da atenção, parece óbvio que um caso de abuso sexual de menores seja cada vez mais "captado" pelo vulgo como uma razoável "libertação" da líbido.

7 -Por tudo isto estou receoso, mas a haver erro judicial seria ainda pior que ele não fosse corrigido. Da mesma forma que o Caso Dreyfus "catalizou" em França uma tolerância aos judeus ( aqui uma boa causa ) por reacção ao seu injustiçamento, também por cá o caso Casa Pia pode levar à tolerância social  para com os pedófilos ( aqui uma má causa ), tanto mais que a discussão social sobre o que é uma criança, o que sabe ou não sabe sobre o sexo a que vai, o nível de apetência pelo prazer que daí retira, e por aí fora, já se instalou na sociedade.

 Aí acabava-se a justiça. E, se calhar, os juízes.

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