Quando nos anos 20 , Hitler publicou o seu Mein Kampf, ninguem nos países democráticos se preocupou com o que lá vinha escrito. Ningém? Não, dois dos políticos mais autocratas do Reino Unido e de França, lançaram avisos e pediram o rearmamento (caro) dos seus países: Churchil e De Gaulle.Não foram ouvidos e o caro rearmamento das democracias custou milhões de mortos e o fim da supremacia dos dois países.
Estes casos emblematizam como governar em ( melhor dito :para ) ciclos eleitorais torna impossível a tomada de medidas custosas mas inevitáveis.
Em relação À CRISE DA GRANDE RECESSÃO actual, não se percebe porque é que desde 2008 não houve regulamentação apertada da banca, divisão entre banca comercial e banca de investimento ( especulativa), tributação de todas as transações financeiras, lançamento de euro-bondes, harmonização fiscal completa na eurolândia, imposto Tobin para criar um orçamento europeu, etc.
Pode pensar-se que os chefes de governo não compreenderam logo a profundidade da crise, o que é verdade para Zapatero e José Sócrates ( que já o disseram ).
Pode suceder que os políticos tenham ciclos políticos demasiadamente curtos para pôr em prática medidas necessárias, o que em parte é verdade.
Mas a principal razão é outra: os políticos eleitos não têm mandato dos eleitores para anteciparem a resolução de problemas se eles ainda não se enxergam para o vulgo na sua verdadeira dimensão. Os políticos são eleitos com um programa para resolver problemas que já existem e existem de forma muito óbvia, e não para antecipar outros.
Daí que surjam custos de inação tanto maiores quanto maior for o tempo perdido. Sucede que nos países católicos como o nosso esse problema de governação é maior que nos protestantes porque noções e valores como sacrifício ( valoriza-se mais um qualquer milagre redentor), rigor ( elogia-se o desenrascanso ) , arriscar ( não há nada como o certinho...), ou mudança ( toda a mudança é captada como um perigo, uma vez que questiona o status quo onde os interesses de cada qual se estabeleceram como um direito adquirido e a mobilidade social é um desvalor ) são todos valores menores.
E tudo isto tende a ser ao contrário nos países protestantes , luteranos ou calvinistas, como procurarei mostrar noutros textos.
Assim, países como Portugal que se arrepiam com situações de sacrifício,rigor,risco ou mudança, serão sempre países com mais dificuldade em crescer em democracia ao ritmo dos países centro e norte europeus Mas podem concorrer com eles se o seu regime político fôr o mais adequado à sua cultura.
P.S. - para quem possa achar que o que fica dito acima é simplesmente baseado na situação conjuntural desta crise, lembro que , por exemplo na República Checa , um país com uma orografia, população e riquezas naturais como as nossas,a educação obrigatória começou 200 anos antes da nossa: em 1774 foi establecida a escolaridade obrigatória de 6 anos passando a ser de 8 em 1869 ; em Portugal não foi na república democrática que ela se iniciou, mas antes no Estado Novo em 1956 é que foi prevista por lei e só para os rapazes a escolaridade de quatro anos, sendo estendida aos dois géneros em 1960 e a obrigatoridade de oito anos só em 1970...Custa mas é a verdade!
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