Euro
Crise económica
Pânico na zona euro
12 novembro 2010 Presseurop
Schrank (The Economist)
Nunca, desde a crise grega da última primavera, um país pareceu tão vulnerável face aos mercados. Enquanto se perfila um plano de salvamento da Irlanda, a imprensa europeia preocupa-se com as consequências para os outros membros da UE.
“Irlanda a caminho de uma nova crise financeira”, anuncia o Frankfurter Runsdschau. E, todos os dias, a sorte da economia irlandesa, enfraquecida pela dívida e pelas taxas de juro cada vez mais altas, parece mais alarmante para o conjunto da zona euro. “O desolador coro do II ato da crise do euro foi entoado por Wolfgang Schäuble”, escreve o Berliner Zeitung.O ministro das Finanças alemão pede que, no futuro, os detentores de obrigações as assumam quando um Estado membro da zona euro tiver de ser salvo pelos outros. “Para os investidores, é uma melodia nova”, comenta o diário. “Até agora, supunha-se que a zona euro resgataria os seus membros. [...] Agora que pensam ter de assumir um risco, exigem juros mais elevados.” O jornal cita um membro da direção do Banco Central Europeu (BCE), que afirma que “os planos alemães levaram, inevitavelmente, a ataques especulativos que reforçaram a crise”.
“A subida das taxas de juro podem conduzir a Irlanda e Portugal a pedirem a ajuda europeia”, constata o Diário de Notícias, de Lisboa. “A UE prepara-se para ajudar a Irlanda cujos juros da dívida ultrapassaram os 9%. Portugal pode ser o próximo a precisar de ajuda, a não ser que os mercados se acalmem.” Para Portugal, “a possibilidade de escapar a um tal pedido diminui todos os dias”, a menos que a perceção do risco, pelos mercados, mude, prevê o economista António Nogueira Leite, citado pelo diário. “A UE diz-se pronta para salvar a Irlanda”, garante, por seu lado, La Vanguardia, que acrescenta que “a Espanha atingiu o seu risco máximo”.
Em Seul, durante a reunião do G20, Durão Barroso declarou que está tudo pronto para o salvamento da Irlanda “em caso de necessidade”, mas as declarações do presidente da Comissão Europeia, que pretendiam acalmar os mercados, “desencadearam novas especulações”. O diário sublinha que a inquietação foi reforçada “pelo ‘blackout’ de informação instalado em Bruxelas, que lembra os dias que precederam o salvamento grego” em maio passado. A diferença, hoje, é que a zona euro dispõe de um mecanismo europeu de estabilidade financeira, acrescenta La Vanguardia.
Para conter a crise, a opção mais credível seria “a França e a Alemanha voltarem a dar confiança aos investidores”, afirma Virginia Romero, da sociedade de investimentos Ahorro Capital, que sublinha, assim, que em caso de salvamento da Irlanda, a situação seria pior do que a criada pelo salvamento grego, em maio, porque “passávamos da exceção à generalização”. O grande temor seria, por isso, “uma contaminação generalizada, mesmo para além dos países periféricos”, conclui La Vanguardia.
“Tudo isto é um grande mal entendido”, garante o Financial Times Deutschland. O diário económico considera que “a política e os investidores agem segundo os seus hábitos – não gerem bem”. Porque se a política, sobretudo europeia, rasteja ao sabor dos compromissos e das maiorias, a finança, por seu lado, quer rapidez e bases sólidas para tomar decisões. “Na última primavera, a Europa experimentou dolorosamente aquilo a que nos pode levar quando esses dois princípios incompatíveis se encontram”. A crise grega foi, então, transformada em crise do euro por erro de uma política demasiado lenta. Daí o apelo da primeira página do FTD: “Agora, despachem-se!”
Em Dublin, o tempo parece estar ainda mais contado. “O Estado irlandês é insolvente: as suas dívidas ultrapassam de longe todos os meios realistas de pagamento”, escrevia no início da semana o economista Morgan Kelly, num artigo publicado no Irish Times, que continua a provocar muitas reações na Irlanda. É uma tragédia em dois atos, explicou. O primeiro foi o plano de salvamento dos bancos tóxicos, com 70 mil milhões de euros, para o qual “irá cada cêntimo dos vossos impostos durante os próximos dois ou três anos”. O próximo será uma crise do crédito imobiliário, cujos sintomas já são visíveis. “As pessoas vão mais longe; não pagam as suas contas e pedem emprestado aos pais para poderem pagar os seus empréstimos.”
E durante esse tempo, ironiza Morgan Kelly, “os mercados prestam homenagem à gestão calma e resoluta da crise pelo Governo e pelo Banco Central, colocando a dívida irlandesa no mesmo grupo de países em risco como a Ucrânia e o Paquistão, dois pontos acima do ‘lixo’ da Argentina, da Grécia e da Venezuela”. “Desde setembro, uma equipa permanente de ‘observadores’ do BCE instalou-se no Ministério das Finanças”, revela ainda o economista. “Apesar de ser composta por altos funcionários de várias nacionalidades, chamamos-lhes ‘os alemães’.” Reagindo a esta espécie de tutelagem, o diário checo Lidové noviny preocupa-se com a redefinição da expressão “solidariedade europeia”, em que “os contribuintes irlandeses são condenados a trabalhar duramente e sacrificados à visão única, franco-alemã, da política monetária europeia”.
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