Quando eu era um miúdo, estudante liceal e depois universitário, senti uma forte pulsão pela política. Tinha do lado paterno uma forte e antiga tradição solidária que me empolgava, mas, o pragamatismo um tanto egoísta do lado materno a todo o momento me questionava se isso valeria a pena. A minha mãe, sobretudo, tentava, como podia, afastar-me da tentação da Polis, argumentando sempre com o prosaico argumento do " olha que eles são todos iguais". Nunca até agora tive dúvidas sérias de que a minha mãe andava errada.
Todavia agora o meu Eu e o meu Mim, dialogam entre si sobre a eventualidade da razão estar com a senhora minha mãe, que nem sequer podia ser considerada uma pessoa cínica. É que não consigo compreender como é que o dirigente mais fulgurante que Portugal teve no último quartel - josé Sócrates - tenha socumbido à arte do fingimento que está nos antípodas do fazer política democraticamente, quer dizer, sem a demagogia e a presunção de que o povo é estúpido e necessita de ser educado.
Nos tempos das ditaduras, experimentamos várias vanguardas. A Legião Portuguesa segui-se ao movimento de Rolão Preto e àquele seguiu-se o Movimento das Forças Armadas e as suas "gloriosas sessões de esclarecimento" a que se seguiram por sua vez, os partidos comunistas que me fizeram perder a paciência com a " vanguarda de classe" ( que me deveria guiar ); e até houve um " grande educador da classe operária " ( mas esse vá lá, era só para uma classe a que eu não pertencia ).
Agora, porém, a coisa fia mais fino, e quando eu vejo e ouço dirigentes em catadupa do P.C., do Bloco, e do P.S. ,com a aquiescência de José Sócrates a explicarem que, por esta vez é só casamento de homossexuais porque o povo ainda não está preparado para a adoção e , por isso, é preciso um tempito para o preparar ( leia-se : fazer-lhe assim a modos duma lavagem ao cérebro ) , eu rebelo-me, e faço-o porque nunca gostei de ser tratado como um puto que precisa de reformatório por uns tempos para depois poder ser gente.
E a coisa fica pior quando este movimento pro-casamento assenta a sua argumentação num fundo de valores de primos e afilhados da dignidade humana. Pois eu, assim, é que não estou a ser tratado com a dignidade que mereço e exijo, e recuso a sentir-me, mais uma vez sem verdadeira liberdade para opinar (como aconteceu durante o P.R.E.C., quando todos sentíamos uma feroz ditadura cultural da esquerda que obrigava todos os não comunistas a esconderem o seu pensamento sob pena de serem tomados por parvos!). Eu não quero viver debaixo doutra ditadura cultural que já vai tão longe que já é difícil encontrar quem, de coluna erguida e sem receio de parecer parolo ou, pior, ser catalogado como mais um que lá no fundo tem tendências secretas de mariquismo e só por isso e para exorcizar a culpa, é contra pretensos casamentos de homossexuais.
Por isso, porque ser politicamente correcto é sempre um acto de cobardia, que é o manto que aconchega as ditaduras - todas as ditaduras - aqui fica o meu repúdio e desilusão para com o meu Partido, porque quanto aos outros dois, ditos de esquerda, desde 1974 que lhes provei o sabor: a asco.
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