CENTRO DE INVESTIGAÇÃO DA ACADEMIA DA FORÇA
AÉREA:
Atividades de Investigação, Desenvolvimento
& Inovação
na área dos Sistemas Aéreos Autónomos
Não-Tripulado
1.
INTRODUÇÃO
É de realçar que a concretização, a nível Nacional, de actividades de Industrialização e Comercialização no âmbito dos UAS, permitirá que se possam vir a atingir os seguintes três objetivos, considerados da maior relevância a nível do País: i) aproximar Portugal da liderança, a nível europeu, na área dos UAS, quer sob o ponto de vista tecnológico, quer sob o ponto de vista operacional, libertando, simultaneamente, o País de uma eventual dependência externa relativamente à aquisição futura deste tipo de sistemas; ii) liderar a comercialização das tecnologias UAS, particularmente, a nível dos Países de Língua Oficial Portuguesa, fomentando um nicho de mercado com elevados retornos financeiros; e iii) não deixar perder a oportunidade que, neste momento, se nos oferece, de a tecnologia UAS ser, de entre aquelas com aplicação militar, uma das tecnologias relativamente à qual o País – tendo por base os desenvolvimentos tecnológicos e operacionais concretizados, até à data, pelo CIAFA – possui capacidade para levar a cabo o ciclo completo de produção (projeto, fabricação, teste e operacionalização) se, para o efeito, forem constituídos os consórcios nacionais adequados.
2. ORGANIZAÇÃO E METODOLOGIA DE TRABALHO
MPLEMENTADAS NA AFA E, EM PARTICULAR, NOCIAFA, NO ÂMBITO DAS ATIVIDADES DE ID&I NA
ÁREA DOS UAS
Os principais
desenvolvimentos tecnológicos e operacionais levados a cabo pelo CIAFA na área
dos UAS tiveram o seu início em janeiro de 2009 na sequência da aprovação de um
projeto de ID&I financiado pelo MDN: o projeto PITVANTv.
Com esta abordagem teve-se, desde logo, em mente, concentrar todos os recursos humanos, materiais e financeiros de modo a ser possível a operacionalização, a curto/médio prazo, daquele tipo de tecnologia, tendo em vista, primariamente, a sua utilização operacional, no contexto da Força Aérea, no âmbito marítimo, sem descurar, no entanto, a sua utilização no contexto dos outros Ramos das Forças Armadas (FFAA), Forças de Segurança (FFSS) e de outras entidades governamentais de natureza não-militar bem
como, mesmo no âmbito de entidades não-governamentais, dada a natureza dual (militar e civil) daquele tipo de tecnologia.
Fig. 1 − Metodologia
multidisciplinar, especificamente centrada no desenvolvimento de Sistemas
Aéreos Autónomos Não-Tripulados, implementada no CIAFA para concretização das atividades de ID&I na área dos UAS
Uma vez que os
objetivos do CIAFA pressupõem o desenvolvimento de atividades de ID&I das
quais resultem produtos com elevados níveis de prontidão
tecnológica (TRLvi), têm sido
adotadas neste Centro, desde 2009, metodologias específicas de gestão e execução
técnica no âmbito daquelas atividades, nomeadamente através da utilização de um
conjunto de standards amplamente aceites e testados, e que têm, entre outros,
os seguintes objetivos: i) garantir a correta gestão do projeto [IEEE Std 1490, 2003]; ii) garantir a condução
sustentada do projeto segundo os princípios de Engenharia de Sistemas [IEEE Std 1220, 2005]; iii) garantir a necessária
interoperabilidade dos sistemas e subsistemas em desenvolvimento [STANAGviii
4586, 2012]; iv) garantir a formação e
treino das respetivas equipas de operação [STANAG 4670, 2013]; e v) progredir no sentido
de garantir a sua necessária certificação de aeronavegabilidade [STANAG 4671,
2009].Aéreos Autónomos Não-Tripulados, implementada no CIAFA para concretização das atividades de ID&I na área dos UAS
No âmbito da organização houve que criar a estrutura necessária para levar a cabo, com a máxima flexibilidade e economia de recursos, as atividades de caráter tecnológico e operacional acima referidas, tendo-se, em conformidade, criado, no âmbito do CIAFA, as seguintes seis entidades: Núcleo de Investigação, Núcleo de Operação, Núcleo de Produção e Qualidade, Gabinete de Gestão de Projetos, Laboratório de Aeronáutica e Laboratório de Ciências e Tecnologias.
3. PRINCIPAIS
DESENVOLVIMENTOS TECNOLÓGICOS
E OPERACIONAIS LEVADOS
A CABO, ATÉ AOMOMENTO, PELO CIAFA NA ÁREA DOS UAS
Procura dar-se, neste número, uma visão global dos principais progressos tecnológicos e operacionais mais significativos levados a cabo no contexto do CIAFA, desde janeiro de 2009 até ao momento, no âmbito dos UAS.
Ao longo daqueles desenvolvimentos tecnológicos e operacionais, procurou-se, sempre que possível: i) avaliar em contextos operacionais conjuntos, combinados e/ou duais, a tecnologia UAS em desenvolvimento; ii) levar a cabo provas de conceito no âmbito de operações a executar por eventuais utilizadores, tendo em vista a validação operacional daqueles sistemas. Com esta abordagem tornou-se possível incorporar na tecnologia UAS desenvolvida no âmbito do CIAFA, os requisitos operacionais adequados ao desempenho das missões definidas por cada futuro possível utilizador. Por outro lado, estes testes e demonstrações permitiram a definição de novos conceitos de operação para os UAS desenvolvidos no âmbito daquele Centro.
Fig. 2 − Fases de
desenvolvimento das atividades levadas a cabo pelo CIAFA na área dos UAS
1ª Fase (janeiro de
2009 a dezembro de 2012)
Nesta fase operaram-se, no espaço aéreo segregado em torno do
Centro de Testes de UAS da Força Aérea, na Ota, os UAS desenvolvidos no âmbito
do CIAFA (vd Figuras 3 (a) e 3 (b)).
écnica da Força Aérea (CFMTFA), Ota; (b) Linha da frente: tenda de operação junto à pista
Durante a mesma
adquiriu-se, desenvolveu-se e consolidou-se o know-how necessário nas áreas de
projeto, fabricação, integração, manutenção e operação de UAS, know-how este inexistente, até à
data, em Portugal, e indispensável à execução de qualquer projeto na área
destes sistemas, tendo-se, em conformidade, levado a cabo as seguintes ações: i) realização de mais de
400 voos autónomos com um total acumulado de mais de 250 horas de voo a
altitudes até 3.500 pés, com protótipos UAS produzidos no CIAFA (vd Figuras 4
(a) e 4 (b)) ; ii) formação e treino de
várias equipas de operação de UAS de pequena e média dimensão (plataformas com um peso
máximo à descolagem não superior a 150 kg), a partir de conceitos de operação
próprios, desenvolvidos pela primeira vez em Portugal; iii) testes com sistema de
vídeo de qualidade a bordo; iv) desenvolvimento de
algoritmos de controlo para seguimento de veículos em terra e no mar; v) voos noturnos; vi) voos com múltiplas
plataformas com vista à execução de voos cooperativos; vii) voos para além da
linha de vista (BLOS – Beyond the Line-of-Sight); viii) testes preliminares de
sistemas para seguimento de caminhos (linhas de costa, estradas, etc.); ix) evolução tecnológica
das plataformas já existentes; x) fabricação e teste e teste de novas plataformas; e xi) otimização a nível
multidisciplinar e do processo produtivo.
Fig 3-(a) Voo de teste de um protótipo UAS de 25 kg de peso
máximo à descolagem ;
(b)Voo de teste de um protótipo UAS de 150 kg de peso máximo à descolagem
(b)Voo de teste de um protótipo UAS de 150 kg de peso máximo à descolagem
Realça-se, em
particular, a presença, em alguns dos testes realizados durante a primeira
fase, de membros dos três ramos das FFAA e FFSS, e de outras instituições,
governamentais e não-governamentais, com vista à recolha de informação para as Instituições
por eles epresentadas.
Para mais detalhes
sobre as atividades relacionadas com os desenvolvimentos tecnológicos e
operacionais referidas nesta primeira fase consulte-se a Referência [AFA, 2014]
e [MORGADO, 2013].
2ª Fase (janeiro de
2012 a dezembro de 2014)
Nesta fase foi
possível, na sequência dos desenvolvimentos atingidos na Primeira Fase, dar início a
operações fora da Ota, nomeadamente em voos sobre o mar, a partir dos
aeródromos de Santa Cruz e
Portimão, e do aeroporto de Porto Santo.
Relativamente aos voos sobre água teve-se, particularmente, em vista, o desenvolvimento das tecnologias e do know-how de operação para testar a utilização de UAS no contexto da monitorização dos corredores de navegação marítima.
Refere-se que o tráfego marítimo ao largo da costa portuguesa se processa por corredores situados a distâncias entre 40 a 100 km da costa, constituindo a utilização operacional de UAS uma ferramenta de particular importância no contexto daquela monitorização a qual, tendo em conta os interesses de Portugal, importa desenvolver e avaliar a nível Nacional (vd. Figura 5 (a)).
Fig. 5 − (a) Corredores
de navegação marítima ao largo da costa portuguesa
Foi esta a filosofia
subjacente aos desenvolvimentos tecnológicos e operacionais, mais significativos,
levados a cabo no âmbito da Segunda Fase.
No âmbito daqueles
desenvolvimentos destacam-se: i) voos de UAS com vista à deteção e
localização de navios ao largo da costa, navegando no corredor de navios
comerciais e utilizando informação do Sistema de Identificação Automático (AIS – Automatic
Identification System) (vd Figura 5 (b)); ii) voos de monitorização
da linha de costa, nomeadamente de arribas costeiras; iii) testes para avaliação
e operacionalização de algoritmos para busca estocástica de alvos no mar (junta
à linha de costa) e seu posterior seguimento tracking; iv) voos UAS operados a
partir de uma estação de Comandoe Controlo (C2) instalada a bordo
de uma embarcação da Marinha, com envio de imagens vídeo em tempo real para
bordo; v) realização de provas de
conceito, em colaboração com a DGPM
e a EMSA, sobre a utilização de UAS no âmbito da monitorização ambiental
marítima, nomeadamente no contexto de derrames de hidrocarbonetos no mar; e vi) vigilância da linha
de costa em colaboração com a Polícia Marítima (vd Figuras 6 (a) – 6 (c)).
De referir ainda a realização, nesta segunda fase, dos primeiros testes no
âmbito da utilização de UAS tendo em vista o incremento dos níveis de conhecimento
situacional marítimo (e.g. monitorização
ambiental marítima, monitorização de tráfego marítimo, etc). Estes testes
tiveram lugar no contexto do Exercício SHARPEYE-14xiii sendo seu objetivo a
integração de dados recolhidos sobre mar, por protótipos UAS desenvolvidos no
CIAFA, no sistema de
conhecimento situacional marítimo NIPIM@R.Este sistema é operado pela DGPM, em colaboração com um conjunto alargado de entidades nacionais ligadas à monitorização de atividades humanas de âmbito marítimo, e está a ser desenvolvido pela empresa Inovaworks Command and Control, empresa esta integrada na BTID.
A implementação em Portugal, através do NIPIM@R, do sistema CISE, ocorrerá até 2020, sendo todos os trabalhos coordenados pela DGPM, assegurando-se a interoperabilidade e a partilha de informação nos domínios organizacional, legal e tecnológico, entre todas as entidades responsáveis pelo seu desenvolvimento.
nossa costa (40 km da costa), obtidas
a partir de um protótipo UAS de 25 kg de peso máximo à descolagem
Fig. 6 − (a) Imagem da operação de fiscalização da Polícia
Marítima, recolhida a bordo de um protótipo UAS
de 25 kg de peso máximo e enviada, em tempo real, para a estação de C2 de terra móvel situada na linha de
osta; (b) Aspeto do exterior da estação de C2; (c) Aspeto do interior da estação de C2
de 25 kg de peso máximo e enviada, em tempo real, para a estação de C2 de terra móvel situada na linha de
osta; (b) Aspeto do exterior da estação de C2; (c) Aspeto do interior da estação de C2
Destaca-se, ainda nesta
Segunda Fase, a realização de voos
em Berchtesgaden (sul da Alemanha), no
âmbito de testes de voo com vista à avaliação da precisão do sistema Galileo relativamente
a veículos aéreosxv. Estes testes constituem um marco que se considera
particularmente importante a nível Nacional, uma vez que com eles se associam a
AFA, a Força Aérea e Portugal a um projeto Europeu de grande impacto e
dimensão.
Finalmente, importa
referir nesta segunda fase, a realização de testes, em colaboração com a EDP-Inovação e com o Centro de
Excelência e Inovação da Indústria Automóvel (CEIIA), tendo em vista a operacionalização
de um sistema UAS de 25 kg de peso máximo à descolagem, a descolar de catapulta
e a ser recolhido em rede, tendo em vista a sua utilização no âmbito da
monitorização de linhas de distribuição de energia elétrica.
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