A primeira vez que o vi foi - frequentava eu o primeiro ano da Faculdade de Medicida - quando fui ao grande auditório da minha Faculdade assistir às provas de agregação dele e de Pinto Machado, um outro professor muito menos grande.
Depois das provas de ambos que à generalidade dos assistentes pareceram um pró-forma encomendado, mas que iriam decidir da permanência de um deles no Porto e na saída do outro para Moçambique, para a Universidade de Lourenço Marques, foi sem surpresa que quem cá ficou a dar aulas - péssimas - foi Pinto Machado.
E lá foi Nuno Grande para Moçambique pôr em pé a Faculdade de Medicina com que Salazar entendera dotar aquela colónia. E, sorte a dele! Porque sem os colegas que estorvam , as burocracias que enrredam nem os preconceitos que impedem, Nuno Grande pôde por em prática as suas ideias do que devia ser uma Faculdade de Medicina.
E foram essas ideias que, após a descolonização, pôde replicar nos fundamentos do Instituto de Biomédicas Abel Salazar. Com linhas travessas se cozeu o destino dele e, sem exagero, do ensino da medicina portuguesa.
Muitos anos mais tarde haveria eu de frequentar a sua casa por motivos políticos e haveria de constatar o seu tónus de vida calmo mas decidido, próprio - como diria Salazar - de quem discute as coisas com dúvida mas as realiza depois com fé.
Segue abaixo um texto retirado do 31 da Armada:
Quarta-feira, 10 de Outubro de 2012
Carregava a grandeza no nome, mas será pela grandeza das suas obras que nos recordaremos dele. Co-fundador do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, Universidade do Porto, o Professor Nuno Grande revolucionou para sempre o ensino da Medicina em Portugal. Sob o lema «médico que só sabe Medicina, nem Medicina sabe», procurou a multidisciplinaridade numa altura em que parecia impossível, instigou o espírito crítico quando imperava a unanimidade, afrontou, criticou, propôs soluções toda a sua vida. Concordando-se ou não, assumiu sempre posições sobre o que se passava à sua volta. Sem medos. E sempre com as pessoas em primeiro lugar.
O Professor Nuno Grande marcou a vida de muitos (quase todos) que privaram com ele, entre alunos, colegas, familiares, amigos, doentes. Mais que todos os seus feitos científicos e cívicos (que deixo aos biógrafos a difícil tarefa de agregar), são estas marcas indeléveis que foi espalhando ao longo da sua vida que definem a sua grandeza. A Igreja da Nossa Senhora da Boavista foi pequena demais para acolher o mar de gente que quis prestar uma última homenagem a este médico, investigador, humanista, professor, Homem da cidade. Que quis agradecer a Deus o privilégio de o termos tido connosco durante 80 anos.
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