domingo, 14 de outubro de 2012

CHINA A CAMINHO DA RECESSÃO

Exportações chinesas cresceram apenas 1% em termos anuais
Em julho, o motor de crescimento económico chinês abrandou brutalmente. As exportações haviam crescido 8% em junho em relação ao mesmo mês do ano passado. No mês seguinte cresceram apenas 1% em termos homólogos.
Os economistas chineses esperavam que as exportações – o motor da economia chinesa nas últimas décadas – aumentassem em julho 8,6% em relação ao mesmo mês do ano passado. Hoje, apanharam com um balde de água fria – o crescimento das exportações em julho em relação a período homólogo de 2011 foi apenas de… 1%. Em junho, tal crescimento homólogo havia sido de 8%. As exportações para a União Europeia desceram em julho mais de 16% em termos homólogos.
Este abrandamento das exportações poderá implicar que a previsão oficial cautelosa de 7,5% de crescimento para 2012 é otimista, apesar de ser uma revisão em baixa do objetivo político de nunca deixar descer a taxa de crescimento abaixo do limiar dos 8% anuais. O Fundo Monetário Internacional mantém a previsão de 8% para este ano.
Os analistas especulam, agora, que o Banco Popular da China (BPC, o banco central) poderá avançar com nova revoada de medidas de “alívio do crédito” no âmbito da política monetária e que o governo chinês poderá desenhar mais pacotes orçamentais de estímulos. No primeiro semestre de 2012 já foram referidos estímulos orçamentais na ordem dos 123,7 mil milhões de dólares. Os rumores de que o BPC e o governo chinês poderão atuar em setembro já fez disparar a especulação no mercado do petróleo.
Abrandamento da economia mundial
Aquele abrandamento brutal nas exportações chinesas espelha bem a situação da economia mundial com uma previsão de crescimento em 2012 na ordem dos 3,5%, contra 3,9% no ano passado, segundo as últimas estimativas (World Economic Outlook Update, Julho 2012) do Fundo Monetário Internacional (FMI).
Recorde-se que em 2009, a economia mundial esteve em recessão, com uma quebra do PIB de 0,7% (a 12ª maior recessão desde o século XIX, similar á de 1876) e que recuperou em 2010 com um crescimento de 5,3%, inclusive superior ao verificado em 2007 (5,2%), ano do início da crise financeira.
Há que ter em conta que a zona euro deverá contrair-se 0,3% (é a primeira região do mundo com recaída na recessão desde 2009, ainda que ligeira), segundo o último relatório do Banco Central Europeu divulgado esta semana, o Reino Unido deverá ter crescimento zero (ou seja, a economia ficará estagnada este ano), segundo ontem admitiu Mervyn King, o governador do Banco de Inglaterra, os EUA deverão crescer 2% e as economias emergentes deverão baixar de 6,2% em 2011 para uma projeção de 5,6% feita pelo FMI. O crescimento anual nos EUA poderá ser inferior ao projetado pelo FMI, pois Ben Bernanke, o presidente da Reserva Federal (Fed), admitiu a 1 de agosto – na última reunião mensal do banco central – que a retoma da economia americana tinha “desacelerado um bocado”. A previsão da Fed é para um intervalo de crescimento entre 1,9% e 2,4%. Nova previsão será revelada em setembro.
Acto II — Balança de pagamentos chinesa com défice no 2º trimestre. Economistas ocidentais alegam que está a ocorrer uma saída massiva de capitais da China. Entidades oficiais negam. Um défice na balança de pagamentos não se observava desde 1998.
Agosto trouxe ainda outra surpresa na divulgação de estatísticas chinesas, para além do abrandamento brutal nas exportações em julho em relação a período homólogo de 2011. Pela primeira vez desde 1998, a balança de pagamentos da China teve défice no 2º trimestre de 2012, fazendo descer em 11,8 mil milhões de dólares o volume de reservas da China, segundo dados oficiais.
A balança de pagamentos regista os saldos da balança de transações correntes e da balança de fluxos de investimento e de capital.
Ainda que a balança de transações correntes continue a ter excedentes (em virtude dos excedentes da balança comercial de importações e exportações de produtos), os movimentos financeiros e de capital revelaram, no segundo trimestre deste ano, um défice recorde de 71,4 mil milhões de dólares, ou seja as entradas em investimento estrangeiro direto e em carteira na China foram inferiores à saída de capitais chineses para o estrangeiro.
Fuga massiva de capitais?
Estas saídas de capital podem ser divididas em três blocos, segundo os analistas: uma parte em investimento direto chinês no estrangeiro (seguindo a estratégia de “go global” definida em 1999 para as empresas e entidades financeiras), outra parte em aplicações por parte de cidadãos e empresas em divisas estrangeiras (esta a razão principal alegada pelas entidades oficiais para o número-surpresa do 2º trimestre), e, segundo muitos economistas, a maior parte em direção a paraísos fiscais ou países com baixa fiscalidade, como Hong Kong, Singapura, Luxemburgo, Ilhas Virgens e Ilhas Caimão.
Tenha-se em consideração que, no primeiro trimestre de 2012, a balanço de movimentos financeiros e de capital tinha tido um excedente de 56,1 mil milhões.
Um porta-voz da entidade oficial chinesa, designada em inglês por SAFE – State Administration of Foreign Exchange -, negou que se tenha observado no 2º trimestre uma “fuga massiva de capitais” para fora da China (“fora da China” pode incluir Hong Kong e Macau, que são Regiões Administrativas Especiais que funcionam como plataformas financeiras e comerciais), admitindo, no entanto, “um certo grau de saída”.

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