terça-feira, 3 de janeiro de 2012

SÓ OS VELHOS POLÍTICOS MOSTRAM TER JUÍZO

O antigo primeiro-ministro de François Mitterand afirma hoje (3 de janeiro) no jornal francês Le Monde que a dívida que vence nos estados da zona euro deveria ser refinanciada com juros muito baixos que tornem possível “respirar” às economias aflitas.
Em 2012, os países da zona euro vão ter de refinanciar €1 bilião (1000 mil milhões) da dívida soberana que vence. No caso de Itália serão €440 mil milhões e no caso de França €300 mil milhões. O refinanciamento da dívida não inclui as novas emissões de dívida que terão de ser realizadas para “tapar” os défices orçamentais de 2012.
Face a esta avalancha de refinanciamentos, o antigo primeiro-ministro francês Michel Rocard e o economista Pierre Larrouturou escandalizam-se com o facto de que os bancos comerciais da zona euro se possam refinanciar a juros de 1% junto do Banco Central Europeu (BCE), mas, em contrapartida, os estados têm de pagar múltiplos desse nível de juros para lidar com a dívida soberana. Rocard e Larrouturou questionam estes dois pesos e duas medidas num artigo publicado hoje (3 de janeiro) no jornal francês Le Monde. Rocard foi primeiro-ministro do presidente Mitterand entre 1988 e 1991 e ainda hoje é deputado europeu.
Por isso, sugerem que “a ‘velha dívida’ [a dívida soberana que vence] dos nossos Estados possa ser refinanciada a juros próximos de 0%”.
Alegam que, para tal, os tratados da união não precisam sequer de ser alterados. “Certamente que o BCE não está autorizado a emprestar aos estados membros, mas pode emprestar, sem limite, a organismos públicos de crédito (segundo o artigo 21.3 do estatuto do sistema europeu de bancos centrais) e a organismos internacionais (artigo 23 do mesmo estatuto)”, refere o artigo no Le Monde. “O BCE pode emprestar a 0,01%, por exemplo, ao Banco Europeu de Investimentos (BEI) e à Caisse des Dépôts [francesa], que, por sua vez, podem emprestar a 0,02% aos Estados que tenham de se endividar para refinanciar as suas velhas dívidas”, concluem Rocard e Larrouturou.
O valor de 0,01% advém do facto de se referir hoje em dia o juro que a Reserva Federal norte-americana (Fed) aplicou nos empréstimos secretos à banca norte-americana durante a crise financeira. A Bloomberg apurou que a Fed emprestou 1,2 biliões de dólares (1200 mil milhões) àquela taxa incrivelmente baixa em termos nominais e largamente negativa em termos reais.

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