Mali: A aposta necessária mas arriscada da França
14 janeiro 2013
Presseurop
Libération, Le Monde, Süddeutsche Zeitung & 4 outros
A 11 de janeiro, o Exército francês lançou uma operação militar destinada a travar o avanço para o Sul do Mali dos grupos armados islamitas que controlam, desde a primavera, o Norte do país. A imprensa europeia reconhece globalmente a necessidade da intervenção, mas aponta os riscos desta operação.
Sob o mandato da ONU, as forças francesas levam a cabo bombardeamentos aéreos com o apoio logístico dos britânicos em apoio das tropas do Mali contra o Movimento Nacional de Libertação do Azawad, que luta pela independência das províncias de Gao, Tombuctu e Kidal, e os salafitas de Ansar Dine, e que pretendem instaurar um regime islamita nessa parte do Mali.
Sob o mandato da ONU, as forças francesas levam a cabo bombardeamentos aéreos com o apoio logístico dos britânicos em apoio das tropas do Mali contra o Movimento Nacional de Libertação do Azawad, que luta pela independência das províncias de Gao, Tombuctu e Kidal, e os salafitas de Ansar Dine, e que pretendem instaurar um regime islamita nessa parte do Mali.
"François Hollande pode felicitar-se por ter travado os talibãs das areias", comenta o Libération, que, no entanto, se interroga sobre o que se seguirá à operação "Serval":
Irá a França contentar-se com travar o avanço irresistível dos islamitas no Mali? Irá reconquistar, usando como testa de ferro algumas tropas africanas, o Norte do país, nas mãos, desde há nove meses, dos Loucos de Deus, que impõem um Islão totalmente contrário às práticas moderadas e tolerantes dos malianos? […] Hoje, as tropas francesas talvez sejam bem acolhidas pela população esgotada, que se opõe largamente aos islamitas. Contudo, os malianos não vão, e com razão, suportar durante muito tempo a presença das tropas do antigo colonizador. Não existe uma solução militar e, por maioria de razão, francesa para a crise no Mali.
Perante o avanço dos islamitas, o Presidente francês, François Hollande, optou pelo "mal menor", considera Le Monde. Porque
a passividade não era opção. Ou teria sem dúvida conduzido a uma situação que iria exigir uma ação militar posterior, de maior envergadura. Mas a França não pode ficar sozinha. Ajudar o Mali a reconquistar o seu território é, em primeiro lugar, tarefa dos Estados da África Ocidental. Impedir o estabelecimento de um núcleo *jiadista* no Sahel, é do interesse de toda a Europa.
Ao intervir no Mali, "François Hollande correu um risco", considera o Süddeutsche Zeitung. Segundo este diário de Munique, trata-se, porém, de um risco que não devemos deixá-lo assumir sozinho:
Deve ser criada um força militar operacional internacional, integrada sobretudo por países da União Africana. Por outro lado, a França precisa da ajuda militar dos seus aliados europeus. […] A União Europeia debate, há meses, o problema do Mali, com tão pouco sucesso que até faz corar. […] Neste momento, a Europa já é ameaçada por uma rede terrorista islamita, que se implantou no Norte de África. Aquilo que se passa na outra margem daquilo que, não por acaso, se chama Mare Nostrum não pode deixar ninguém indiferente na Europa. Não se trata do pátio das traseiras negligenciado da Europa mas da sua vizinhança.
"O problema da intervenção francesa é ser francesa", escreve por seu turno o Tageszeitung. Este diário alternativo de Berlim desaprova o "colonialismo de esquerda" e salienta que
[Nicolas] Sarkozy foi muito criticado pela participação francesa nas intervenções militares na Líbia e na Costa do Marfim, mas, pelo menos, essas operações inscreviam-se num quadro internacional estrito. Quem teria pensado que Hollande poderia representar um passo atrás em relação a Sarkozy?
Além disso, adverte The Independent, a intervenção no Mali irá reforçar o discurso radical dos islamitas sobre mais um ataque do Ocidente contra o Islão. Para o cronista Owen Jones,
il est pour le moins dérangeant de constater comment [le Premier ministre David] Cameron entraîne le Royaume-Uni dans le conflit au Mali sans la moindre ébauche de consultation. On nous dit qu’il n’y aura pas d’envoi de troupes ; mais le terme de “mission creep” [l’extension de la portée originale de l’objectif] a un sens, et une escalade pourrait certainement entraîner un engagement britannique plus profond. L’Occident a la é no mínimo preocupante que [o primeiro-ministro David] Cameron arraste o Reino Unido para o conflito do Mali, sem sequer um simulacro de consulta. Dizem-nos que não vão ser enviados soldados. Mas as palavras ‘mission creep’ [extensão do alcance original do objetivo] têm um sentido e uma escalada poderá levar a um maior envolvimento britânico. O Ocidente tem o terrível hábito de se associar aos aliados mais duvidosos: o lado que escolhemos está longe de ser o dos democratas respeitadores dos direitos humanos… É responsabilidade de todos nós analisar bem aquilo que os nossos governos fazem em nosso nome; se não conseguimos aprender isso com o Iraque, o Afeganistão e a Líbia, então já não há esperança.
Em Bucareste, o Adevărul mostra-se preocupado com as "fortes consequências da operação ‘Serval’ sobre um território imenso em África" e, também, com "a segurança da UE e dos seus cidadãos, no interior e no exterior do espaço comunitário". Apesar disso, refere este diário, a intervenção era necessária, devido ao aumento sem precedentes do número de células islâmicas […] a Norte e a Sul do Saara. Contudo, acrescenta,
agora que a França se envolveu diretamente nas operações militares, é possível que se verifiquem cenários semelhantes aos do Iraque ou do Afeganistão, mas a uma escala muito mais vasta e complexa.
"Agora, a questão é saber se e como irá a UE mobilizar-se", acrescenta o European Voice. Este semanário com sede em Bruxelas coloca a questão da defesa europeia e pergunta:
Des pays de l’UE enverront-ils des troupes combattre avec les Français ? L’UE se contentera-t-elle d’entraîner les troupes des autres ? [..] Que les islamistes contrôlent le désert, une base pour de potentielles attaques dans la région et en Europe, est clairement un grand sujet d’inquiétude pour la France et, pense-t-elle, devrait l’être pour l’Europe dans son ensemble. [...] L’intervention et les questions qu’elle va susciter Irão alguns países da UE enviar tropas para combater ao lado dos franceses? Limitar-se-á a UE a treinar as tropas dos outros? O facto de os islamitas controlarem o deserto – uma base para potenciais ataques na região e na Europa – constitui claramente um forte motivo de preocupação para a França e, no entender deste país, deveria sê-lo também para toda a Europa. Outros países da UE talvez não estejam tão preocupados. [...] Mas a intervenção e as questões que esta suscitará irão provavelmente ocupar os espíritos, na grande cimeira de dezembro sobre cooperação em matéria de defesa. […] As questões associadas à capacidade militar da Europa são muito importantes [para o presidente do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy]. Com a ‘ajuda’ do Mali, essas questões irão provavelmente ser muito mais importantes para os outros responsáveis políticos e para os cidadãos comuns europeus, até ao fim do ano.